Se tem um programa que eu não me canso de fazer é conhecer novos restaurantes. Adoro!
Já começo o programa antes mesmo de fazer a reserva, analisando website, viajando no menu, procurando fotos e lendo críticas.
Mas aqui na Suíça não sou só eu que faço isso não. Comer fora é um programa caro e portanto um evento social e financeiro que tem que ser bem estruturado e pensado.
Na Suíça o guia de restaurante mais reconhecido é o Gault Millau. Eles avaliam anualmente os restaurantes de acordo com seguintes critérios:
Qualidade e frescor dos alimentos;
Criatividade e profissionalismo na preparação dos pratos;
Harmonia dos pratos e dos menus;
Execução técnica da cozinha;
Apresentação e atratividade dos pratos;
Consistência na performance
Acho interessante que os critérios não consideram serviço e nem decoração/ambiente do lugar. É valorizada basicamente a cozinha. É óbvio que se espera comer bem.
Os estabelecimentos recebem notas que podem chegar até 20, pontuação ainda não atingida por aqui.
A partir da nota 12, que reconhece o estabelecimento como “boa cozinha, oferece comida convencional e tradicional”, eles começam a entrar na publicação do guia anual.
Além de avaliar os restaurantes da região, eles também destacam produtores de vinho, sommeliers, hotéis e chefs.
Tudo isso para dizer que comprei o guia 2015 e fiquei enfeitiçada pelo tal chef revelação da Suíça Francesa.

Mathieu Bruno, proprietário e chef no restaurante Paysan Horloger, em Le Boéchet, uma cidade minúscula escondida nas montanhas do cantão do Jura, quase fronteira com a França. Ele recebeu o título de revelação e importantes 14 pontos.
Mathieu é novo, mas já trabalhou em dois restaurantes tradicionais e estrelados no Lago Genebra, além de ter experimentado a intrigante cozinha molecular. Acumulou experiências, aprendeu segredos e se picou para as montanhas, junto com sua simpática e eficiente esposa canadense.
Estabeleceram-se em uma cidade que não tem nada demais (a não ser outro chefe estrelado), e lá montaram o pequeno e charmoso restaurante com um hotel de quatro quartos e uma minúscula sala de exposição entitulada “Museu dos relógios”. Um desbunde!
Tentados, fizemos a reserva com mais de dois meses de antecedência... a procura explodiu depois da publicação do guia
Mas o que me encantou mesmo foi o programa.
Sair da rotina, dirigir uma hora e meia e chegar lá, totalmente desacelerados. Check in no hotel, simples mas com bom gosto, largar as malas e conhecer a região.

A idéia era inicialmente fazer uma caminhada nas montanhas mas a chuva leve não ajudou. Descobrimos então uma cidade medieval a 30 minutos de lá. Saint Ursanne, uma boa descoberta!
Fomos premiados com St-Ursanne em festa, um casamento acontecia por lá. Caminhamos entre as muralhas medievais, visitamos a igreja do século VII, vasculhamos antiquários. Até encontrei um presente de aniversário para meu pai.
Sentamos, tomamos um copo de vinho, sem nada para acompanhar. Estávamos 100% comprometidos com nosso jantar. E voltamos para nosso hotel. Banho gostoso.
E pronto: descendo as escadas já sentimos o perfume vindo da cozinha.... Voilá!
Programão dormir neste tipo de B&B, bed & breakfast, ou maison d’hôtes, em francês. Mais e mais curto aqui na Europa estas casas charmosas com boa cozinha e sem grandes pretenções de virar hotel cinco estrelas. A promessa é um jantar surpreendente e uma noite confortável. Adoro não ter que regular no vinho por que alguém tem que dirigir... ficamos a dois lances de escada da nossa cama. Podíamos exagerar, em tudo!
Nossa grata surpresa foi o menu. Simples e fácil escolher. Dois pratos de tudo: entrada, principal, queijo e sobremesa. Claro que assim dá para manter a qualidade e a perfeição que vivemos por lá.

A apresentação dos pratos era linda. Simples mas elegante, harmoniosa e balanceada. Uma poesia.
O gosto de tudo era sublime. Nada muito óbvio, mas não intrigante a ponto de não deixar detectar sabores. Muito pelo contrário.
Mathieu fez por merecer o título de revelação. Se ele, novo assim, já arrasa, só vai poder melhorar, graças a Deus!
A simpatia do serviço, responsabilidade da esposa québécoise, o pequeno e prático salão do restaurante e a carta de vinhos cheia de descobertas interessantes fizeram que nos sentissemos em casa imediatamente.
Comemos, rimos, curtimos uma noite deliciosa. E aí subimos para dormir. Tão prático!
Dia seguinte um café da manhã aconchegante e uma conta razoável. Nada excepcionalmente impossível, para os padrões Suíços. Aliás, até surpreendentemente razoável.
Pegamos o carro e voltamos felizes para a nossa realidade. Bom demais.