Morando em Glion, uma cidadezinha em cima de Montreux onde fiz minha pós graduação, estava literalmente dentro uma área linda para hikings.
A Suíça tem mais de 66.000kms de trilhas demarcadas e sinalizadas para que pedestres possam passear pelas montanhas em segurança mas eu tive muita sorte de estudar embaixo de uma montanha maravilhosa: Col de Jaman, que conheci sem querer, nunca fui apresentada.
Como gostava de andar por ai, eu e dois amigos saímos para uma caminhada em um sábado.

Coloquei minhas botas e fomos embora. Nenhuma grande preparação pois não conhecíamos a área.
Começamos a subir.
Os primeiros cinco minutos subindo são de matar. É a mesma sensação que tenho quando corro, difícil começar. Depois parece que o corpo aceita e a inércia começa a fazer seu papel. Entro em sintonia e vou indo.

O que mais gosto é que cada um vai no seu ritmo. Todo mundo respeita os limites e ninguém apressa ninguém. E cada um desfruta de coisas diferentes. É muito tranqüilo. Uma paz!
Depois de muito subir por uma trilha em uma floresta que cruzava a estrada, chegamos a Caux. Caux tem uma escola, também de hotelaria, que parece um castelo super imponente.
Quase demos a meia volta mas a vista estava tão linda, e a andada tão gostosa, que resolvemos continuar um pouco mais.

Seguimos então por uma estrada que nos levou até Haut Caux, quando a nossa trilha terminou. Ao lado do trilho de trem começava uma outra trilha, desta vez estreita e muito íngreme. Outros cinco minutos cruciais para entrar no ritmo.
Subindo, começamos a sentir a temperatura caindo.
Você começa então a se sentir definitivamente na Suíça: chalés, construídos em madeira, com flores em todas as janelas, muitas vezes exibindo com orgulho a bandeira do país. Muitos deles, geralmente usados para finais de semana ou durante a estação de esqui, não acessíveis de carro.
E aquela trilha termina em uma propriedade que poderia ser a fazenda de qualquer um. Aqui na Suíça é normal as pessoas entrarem na fazenda dos outros. O que se espera é que fechem as porteiras que encontrarem fechadas. Só isso. Pode seguir em frente.

Continuamos a subir e passamos no meio de vacas, abrimos e fechamos porteiras, seguindo as sinalizações das placas amarelas. A trilha ficou menos íngreme mas em função da chuva na noite anterior, meio lamacenta. Bom, a bota é para isso mesmo. Continuamos...


Depois de andar quase quatro horas, chegamos finalmente no Col de Jaman. Dent de Jaman é o nome da montanha. Col e o nome da parte de baixo, onde ela começa. Seria mais ou menos traduzido como “aos pés de Jaman”.

Lá encontramos uma cabana, exatamente na frente do trilho do trem. A cabana, super charmosa, toda construída em pedras, tem a estrutura necessária para enfrentar o inverno, que lá em cima é terrível. As mesas externas dão para um vale maravilhoso e é possível comer um fondue e alguns outros pratos típicos suíços e merecidamente se premiar do mega exercício com um bom vinho.
Aquele dia saímos para uma voltinha e voltamos seis horas depois. Exauridos!
Recentemente esta cabana foi comprada por um chef de cozinha aposentado. Não visitei ainda mas ouvi dizer que o que já era bom ficou ainda melhor.
A maravilha deste hiking é que você vê um pouco de tudo: animais, cidade, cabanas, montanha e muita natureza. Ele pode ser começado desde Montreux, se você quiser morrer de cansaço, ou encurtado começando em Haut de Caux, onde existe lugar para estacionar e também tem parada de trem.

Como prefiro subir que descer, subo até não poder mais e volto de trem, o mesmo que passa em Glion a cada hora e que nos leva de Montreux até Rocher de Naye. Sugiro sempre esse passeio de trem para quem não encara o hiking e que quer desfrutar das montanhas, ou mesmo para crianças.
Por ter descoberto meio na intuição, esse hiking se tornou meu preferido. Já levei alguns amigos queridos para andar comigo por lá. Alguns me juraram de morte na subida mas, quando a gente chega lá na buvette, o esforço se paga automaticamente. É espetacular!
Mais sobre este assunto? Por aqui...
Caminhar nas montanhas, fazer um hiking