Os Brasileiros que mudam para cá, e que não precisam dirigir veículos pesados ou com fins comerciais, podem usar a carteira brasileira por até um ano, até tirar a carteira de motorista Suíça. A exceção é para carteiras de motorista recentes, pois aqui existe um período probatório, onde o motorista ainda novo tem que identificar o carro com a placa L. A lei para eles é mais restritiva que para motoristas experientes.

Como não existe acordo entre a Suíça e o Brasil, os Brasileiros que já têm carteira de motorista brasileira devem fazer um exame prático para avaliar a habilidade de dirigir. Se passar, a carteira de motorista brasileira recebe um carimbo informando que não é mais válida na Suíça e o motorista recebe então a carteira de motorista Suíça. Esta não precisa ser renovada até que o motorista complete 70 anos! Uma alegria! Uso a minha quando vou para o Brasil e nunca mais renovei a brasileira.
Os problemas começam porém se o motorista dançar no exame prático.
Além de receber um carimbo cancelando a carteira brasileira no território Suíço, o motorista reprovado é obrigado a fazer um exame teórico, em francês, alemão ou italiano, e se aprovado, poderá passar novamente pelo exame prático, três meses após a reprovação. O custo do segundo exame é alto, de CHF 650 a CHF 950, e este vai aumentando consideravelmente se o motorista é novamente reprovado.
Existem no total cinco oportunidades para quem for reprovado nos exames. A melhor opção é se preparar e passar logo porque se não passar, as dificuldades, o tempo entre os exames, as restrições e os custos, aumentam exponencialmente.
Uma pessoa que perde o terceiro exame tem que fazer teste psicotécnico e daí para frente. Durante os meses preparatórios o motorista não pode dirigir, uma privação importante para quem mora longe de transporte público. Por exemplo, se um infeliz for reprovado cinco vezes, só poderá fazer novamente exame após um ano, e este será o último.
Eu, por precaução, me inscrevi em três aulas práticas para receber dicas de como funciona o exame e como dirigir por aqui. Usamos meu carro e a aula era rodar, enquanto ele comentava o que eu deveria fazer e a que a estar atenta. Ele também foi bacana em me contar como funciona o exame. Foi um investimento bem feito, recomendo.

No dia do exame eu e meu francês, que na época era macarrônico, demos sorte em encontrar um examinador jovem e simpático, com raízes espanholas. Rodamos no meu carro durante uma meia hora, passando por estradas rurais, cidade movimentada e zonas de 30 kms/h. Aqui tudo é avaliado: sua habilidade de antecipar problemas, o quanto você sinaliza suas ações e sua compreensão da sinalização de trânsito daqui. Ele te dá um destino e cabe a você ler as placas e chegar lá. Lembro do meu exame no Brasil onde minha única preocupação era não deixar o carro morrer em três minutos de percurso. Totalmente diferente da primeira experiência.
Durante o exame tive duas sortes grandes. A primeira foi ele questionar minha carteira de motorista brasileira ter licença para dirigir caminhões não muito pesados. Disse que é porque no Brasil motoristas experientes, os que ficam muitos anos sem acidentes ou multas recebem esse direito, como reconhecimento. Ouvi essa história, mas confesso que não sei se é verdadeira, mas repeti, valorizando o fato. Ele adorou saber e acho que ficou um pouco sugestionado. A outra sorte foi um santo de um caminhão que me fechou e eu aparentemente reagi super bem, como era por ele esperado. Fui até elogiada.
Ele provavelmente não sabe que São Paulo é uma selva para dirigir e que quem sobrevive aos motoboys, trânsito caótico, cortadas maliciosas e zig zags entre faixas sobrevive a qualquer lugar. Aliás, saudades zero do trânsito de lá!
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