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Dirigir na Suíça

Quem dirige em São Paulo exposto a trânsito, motoboys, ruas esburacadas e pessoas te cortando para todos os lados, dirige fácil por aqui. O problema mora exatamente ai. Se dirigir na Suíça como se dirige no Brasil, o motorista terá problemas.

Dirigir na Suíça pode ser sim um estresse e bastante diferente de dirigir no Brasil.

Para adaptar minha carteira de motorista para cá, tive que fazer um exame prático e me preparei com um instrutor.

image: tcs.ch

Minha primeira grande surpresa foi que no sinal “stop” você tem que parar. Meu instrutor não acreditou na minha surpresa quando me corrigiu. Na cabeça do Suíço stop significa stop. Argumentei que nem sempre, que no Brasil damos uma diminuidinha na velocidade e pronto. Confesso que faltaram argumentos para convencer que stop não é realmente stop. Aqui ou você pára literalmente o carro, ou pode se dar mal.

Nunca me liguei na sinalização no Brasil. Não sei se porque me sentia confortável ou se aprendi que não se era importante. A sinalização aqui não é para enfeitar. Se está sinalizado, é para respeitar.

As estradas são tapetes! Seguras, sem buracos e sinalizadas mas, com limite de velocidade 120km/h. Se estiver com obras, o limite despenca e a multa dobra. Em uma obra na estrada perto de Lausanne havia um cartaz contando o número de motoristas que tinham perdido a carteira de motorista naquele trecho. Conheci um que pego pelo radar teve que pagar uma multa de mais de CHF 1000. Caro e evitável!

image: www.rue-avenir.ch

Existem áreas 30 kms/h. Nestas áreas demarcadas o pedestre, que normalmente é rei por aqui, vira Deus! Geralmente residenciais ou próximas a escolas, nas áreas 30 kms/h não existem faixas de pedestres pois eles podem cruzar a rua quando e onde quiserem.

Uma vez quase morri do coração. Dirigia mostrando a uma amiga a área perto de casa. Na zona 30 km/h, estávamos a menos de 20, exatamente porque era horário da saída do colégio. Dizia a minha amiga que as crianças se sentem tão seguras nas ruas, onde passam o recreio com toda a segurança, que até esquecem que estão na rua e não mais na escola. Enquanto dizia, um garoto jogou uma bola alta para um outro, que começou a correr de costas ao encontro da bola. Como estava atenta e a 20 kms/h, antecipei o problema e parei o carro. Estava parada quando o moleque literalmente me atropelou. A bola veio em nossa direção e ele de costas bateu no carro. Um perigo. Felizmente nada aconteceu mas poderia ter sido um acidente grave, cheio de implicações legais, se eu não estivesse ligada. O que também chamou minha atenção foi que o moleque levou a maior vaia dos colegas, que aparentemente conheciam bem os direitos e os deveres daqui.

Cidades com bondes são o caos. Não descobri ainda se a sinalização é diferente mas toda vez que dirijo em Zurich eu apanho. Os bondes atacam os carros. Bondes têm faixas prioritárias, e não raramente exclusivas. Uma vez em Geneva caí dentro de um viaduto que só podiam passar bondes. Não me pergunte como caí lá mas, caí. Vi um bonde vindo em minha direção, a toda velocidade, com o motorista sinalizando com as mão, como se fosse um limpador de pára-brisa, um exagerado “não”! Todo cuidado é pouco! Aprendi, fujo de bondes!

Outra coisa que aprendi aqui é que os carros não são bem-vindos. Simples assim. Esqueça os Estados Unidos... aqui é Europa! Nas grandes cidades os estacionamentos são poucos, têm vagas minúsculas e custam uma fortuna. Aqui não existe vallet parking. As ruas muitas vezes têm mão única o que faz que você dirija 3 kms para percorrer uma distância de 200 metros. O GPS nem sempre sabe de todos os desvios quando uma rua está em construção, um estresse. Em Lausanne, por exemplo, existe um estacionamento na porta da cidade onde você deixa o carro e recebe alguns vales-transportes, já inclusos no preço. Clara mensagem que seu carro não é bem-vindo.

E para complicar ainda é preciso decifrar as diversas demarcações de estacionamento nas ruas.

  • As vagas demarcadas em azul pedem “relóginho” e geralmente, se não informado diferente, pode-se parar por até uma hora e meia, sem custo. Relóginho é um marcador para ser colocado no painel do carro informando a hora que o carro foi parado.

  • As vagas demarcadas em amarelo são vagas particulares, fuja delas!

  • As demarcadas em branco são pagas, no parquímetro.

Os parquímetros, que geralmente só aceitam moedas, informam o custo e o tempo máximo que se pode parar naquela vaga. Não basta somente alimentar com moedas, precisa mostrar que pagou:

  • Algumas vagas têm um número marcado no chão. Este deve ser informado quando alimentar o parquímetro.

  • Alguns parquímetros imprimem um recibo, que deve ser colocado no painel do carro.

  • Também existem paquímetros que pedem a placa do carro.

image: ricougneries.blogspot.com

E é claro que quando se chega no parquímetro a gente tem que voltar para o carro, porque esqueceu de ver o número da vaga ou da placa do carro.

O valor alimentado no parquímetro determina o tempo máximo de estadia do veículo. Em algumas áreas o horário de almoço é isento, em outras não. O segredo é ir colocando as moedas com o olho no horário limite que ele vai informando. Dependendo da vaga pode-se ficar muito tempo, em outras, somente alguns minutos, e não adianta colocar mais moedas.

Enfim, tem que ser PHD para entender de cara como proceder para parar seu carro.

E se você gosta de tomar um vinho, repense em dirigir por aqui. Como no Brasil, os guardas de trânsito têm autoridade para parar os veículos e testarem o nível de álcool do motorista. Aqui a lei aceita até 0.5% de álcool para motoristas não profissionais. Se pego em uma blitz, dependendo do excesso de álcool, sansões podem ir de multas até processo penal. A multa depende da situação financeira do motorista, quem ganha mais paga mais para impactar em todos os bolsos. Aqui a primeira coisa que os guardas fazem quando param alguém é perguntar se o motorista bebeu. Se negar, e eles comprovarem que você mentiu, as sansões ficam ainda piores. E quem está no carro também se encrenca, porque não deveria deixar dirigir alguém que bebeu acima do limite.

Sem falar das bicicletas e dos pedestres... eles estão para todos os lados e o motorista tem óbvia obrigação de respeitá-los. E eles são ousados, alguns pulam em cima de você!

Eu tenho também uma Vespa. Adoro. Nunca me aventurei a dirigir moto no Brasil mas aqui me sinto segura. Comprei uma capa para proteger do vento frio do inverno. É uma delícia para circular nas cidades e nas ruas estreitas. Ela pode ser parada em vagas demarcadas sem custo e sem limite de tempo para o motorista. Mas claro, o motorista fica mais exposto, tem que ter atenção dobrada.

Sei que carro é super conveniente mas, quando posso escolher, vou à pé ou de trem. O transporte público nos leva a maioria dos lugares. Acho que andar é uma delícia, melhor ainda aqui, sem problemas de segurança e com respeito ao pedestre.

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