Alguns adolescentes ficam entre a cruz e a espada para escolher profissões e empregos. Comigo foi diferente.
Sempre fui bem decidida, desde pequena.
Terminei meu colégio e sabia claramente o que queria. Engenharia mecânica. Escolhi também com segurança minha faculdade. Mauá. De lá, entrei como estagiária na Dow, empresa que queria trabalhar. E lá trabalhei feliz por muitos anos.

Então, por diversos motivos ponderados durante três longos anos, resolvi sair e vir para a Suíça, para uma pós graduação. Terminou a pós e decidi que não queria mais voltar para o Brasil. Entre o final da minha pós graduação e o início do meu trabalho aqui na Suíça, tive quase um ano e meio.
Um ano e meio sem fazer nada!


E fiquei então por aqui.
Passei um bom tempo sem fazer nada de especial.
Pensando bem, é errado dizer que fiquei sem fazer nada de especial. Comentário preconceituoso. E eu acho que também tinha este preconceito (pré-conceito!!) capitalista que diz que só trabalhando e ganhando dinheiro é que se faz algo produtivo.
Mentira. Fiz coisas para caramba neste ano e meio!




Passei vivendo, curtindo a vida, conhecendo pessoas de outras culturas e explorando maneiras de mudar definitivamente para cá, com visto e emprego.
Naquela época desbravei a Suíça. Não parei um único minuto.

Decodifiquei a maneira de se viver por aqui. Participei de festas regionais, fiz caminhadas sem fim, subi e desci montanhas e cruzei muitas pessoas interessantes.
Conheci uma amigona brasileira, cujo marido viajava direto, com quem eu circulava para cima e para baixo. Corríamos em volta do lago, inventávamos viagens por perto, visitávamos caves e mais que tudo, cozinhávamos receitas novas, sempre rindo e bebendo bons vinhos!
Foi aqui na Suíça, durante estes dias, que aprendi a cozinhar.

Sempre gostei de comer bem e sempre quis cozinhar, mas nunca soube. Em São Paulo a rotina era comer fora. A combinação trânsito e trabalho até tarde impediu que eu aprendesse por lá. Cozinhar demanda tempo. Escolher receitas, comprar ingredientes, convidar pessoas, colocar a mesa, executar, perfumar a casa, se perfumar e finalmente receber. Exaustivo! Depois limpar tudo. Bom, limpar tudo até que é mais fácil no Brasil, onde se tem ajuda.

Aqui os restaurantes são bem caros. E não são tão elaborados como em São Paulo. Eu digo sempre que aqui existe um comprometimento: ou a cozinha, ou o ambiente, ou o serviço. Um dos três sai do trilho, quase sempre. Com o tempo formei minha lista secreta dos poucos restaurantes que atendem a todos os meus requisitos mas, são poucos mesmo.
Quando se tem tempo de sobra, vontade de aprender e orçamento limitado, aventurar-se na cozinha acaba sendo um programão! Eu já havia desmistificado o monstro, quando vivenciei a cozinha de um restaurante gourmet como estagiária, agora precisava colocar a mão na massa, praticar e me soltar. E foi o que fiz. E amei ter feito.

Em minhas minúsculas quitinetes alugadas tinha poucas coisas comigo mas tinha alguns utensílios de cozinha, coisas simples que comprei para que minhas receitas e minhas mesas tivessem pelo menos um pouco de charme. Tem utensílios que ainda sobrevivem.

Fazíamos festas para tudo. Convidávamos amigos, tudo era motivo para cozinhar.
E então, como queria e devia, descolei meu emprego e voltei a ser gente grande. A ter agenda, a atender compromissos. Mas nunca mais abandonei a cozinha. Aqui, sem trânsito e trabalhando horas razoáveis, continuo a cozinhar. E modéstias a parte, cozinho cada dia melhor!