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Plantando abóboras na Suíça

Sortuda para uma paulistana, sempre tive acesso a natureza.

Apesar de ter passado grande parte da minha infância indo nas férias para a fazenda da Vovó Maria, onde brincava com meus primos no pomar, de ter trabalhado muitos anos no mercado agrícola com oportunidade de visitar agricultores empreendedores e suas propriedades e de ter vivido grande parte da minha vida na casa de meus pais, onde tínhamos um pequeno jardim, nunca me interessei em por a mão na massa e plantar alguma coisa.

Aqui em St-Prex vivemos em uma casa que tem um terreno em declive onde nada, além de plantas daninhas, sobrevivem. No primeiro ano plantamos lavandas na ribanceira, que foram rapidamente devoradas pelo mato que cresceu por lá.

No segundo ano insistimos com trepadeiras, que não resistiram e novamente cederam espaço para a mataiada.

Eu, que tive a sorte de discutir e aprender com os melhores agrônomos do mercado sobre mato-competição, me convenci que o banco de sementes de ervas daninhas não permitiria que nada crescesse por lá. Precisaria dar um jeito de enfraquecer as sementes da floresta indesejada.

Aí tive um clique andando pela vizinhança. Notei uma plantação de abóboras e fiquei fascinada com o tamanho das folhas e a rápida cobertura do terreno. Espionei durante algum tempo a plantação do vizinho até que me convenci: “Vamos plantar abóboras no terreno em declive”. Meu Suíço reagiu rápido: “Enlouqueceu? As abóboras vão rolar e causar um acidente na rua”. Quem que é mesmo exagerado por aqui?

Não tinha tempo para esperar acordo então, arrumei algumas caixas de vinho de madeira, fiz alguns furos e enchi de terra. Comprei dois saquinhos de semente de abóboras, e algumas outras sementes de flores, e em Abril comecei a minha plantação dentro de casa, fazia frio animal lá fora. Duas vezes por dia burrifava água nas minhas caixinhas, colocadas estratégicamente perto da janela para aproveitar um pouco do sol.

Daí começou o milagre. Do nada apareceu uma folhinha com a casca da semente do lado. E outra, outra, outra, até que tinha doze mudas de abóboras. Bravo! Todas as sementes germinaram!

Aí outro milagre: Meu Suíço começou a amar a ideia das abóboras. Providenciou umas barreiras no terreno para evitar desabamentos e quando pedi que comprasse um pouco de composta, para enriquecer o solo, quase caí para traz quando o ví chegar com dez sacos de 50 litros cada. Sem dúvidas estava comprometido com nossa plantação!

Aguardamos a chegada do mês de Maio, para que as noites não ficassem tão frias, e finalmente transplantamos nossas mudas.

Quando cheguei em Junho de uma viagem de uma semana, Meu Suíço havia instalado um sistema de irrigação por gotejamento. Wow, estávamos mais que comprometidos.

E elas cresciam como loucas!

Todas as manhãs minha rotina era acordar e regar as plantas. Tirávamos com as mãos o mato que ainda insistia em crescer em volta e acompanhávamos diariamente a rapidez com que os ramos cresciam.

Aí o terceiro milagre. Flores amarelas começaram a surgir. Lindas, majestosas, imponentes. Abriam de manhã e fechavam quando ficava muito sol. E em algumas delas começaram a brotar pequenas abóboras. Quase morremos de alegria.

O programa era descobrir abóboras que apareciam do nada crescendo escondidas no meio da folhagem densa.

Até que nos tornamos ridículos. Quando tínhamos visitas mostrávamos nossa pequena plantação. Tirávamos fotos e enviávamos a pessoas queridas, colocava até no Facebook. Todo mundo começou a perguntar pelas nossas abóboras. Como não temos filhos e nem cachorros, as abóboras viraram nossa preocupação e minha ocupação principal. É mole?

E a empolgação era contagiante. Recebemos minha afilhada por aqui, que se ocupou durante duas semanas das nossas abóboras, que começavam a ficar laranja. Fascinante a transformação.

Viajamos de férias e, diferente de antes, que era só fechar a casa e ligar o alarme, nos organizamos e ocupamos a filha da vizinha, a quem demos claras instruções de como cuidar da nossa pequena plantação.

Atingimos e até superamos nosso objetivo inicial. As folhas imensas cobriram o terreno e seguraram com bastante rigor as ervas daninhas.

Ficou lindo! Os vizinhos comentavam, virou assunto no bairro!

Até que as folhas começaram a secar. Triste até, confesso. As cores mudaram. Daquele verde forte, resultado de um verão quente e de muita água, para um dourado queimado, desbotado que murchou quase tudo. A terra reapareceu, as abóboras sobressaíram, e começaram a nos avisar que havia chegado a hora da colheita.

E fomos nós dois, eu e Meu Suíço, armados com a tesoura da cozinha colher nossas abóboras.

Cortamos 7 abóboras grandes e laranjas e mais de trinta pequeninhas, usadas para decoração mas também gostosas, chamadas de potimarron. Mais de 41 quilos de abóboras, que começaram em uma caixinha de vinho.

Incrível, fascinante, uma experiência indescritível e milagrosa.

A natureza ensina. Tem que cuidar, esperar e se dedicar que o resultado chega. E aprendi também um pouquinho mais sobre o suíço: quando estão comprometidos, estão de corpo e alma.

É claro que com este bando de abóboras vamos fazer um festão de Halloween por aqui. E todo mundo está convidado!

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