
Acho que gostar de sapatos é algo definido pelo cromossomo feminino. Conheço poucas meninas que não gostam. Eu não gosto, adoro. Não sei calcular quanto já investi em pares de sapatos que eu simplesmente não podia deixar de comprar.
Uma amiga, indecisa com um par de sapatos vermelhos lindos na mão, tentava se convencer que não precisava de outro par. Na hora reagi: compramos porque adoramos, não porque precisamos. Foi convencida imediatamente.
Não gosto muito dos sapatos daqui. Penso que são caros, sérios, básicos e visam muito mais o conforto que o charme. Compro meus sapatos no Brasil, muito mais divertidos, excelente qualidade. São confortáveis mas sabendo ser charmosos e diferentes.

Conheci minha querida amiga inglesa por causa da Sarah Chofakian. Estava em uma festa e dançava vestindo meu sapato preto com margaridas aplicadas, que tenho há dez anos. A inglesa não tirava os olhos dos meus pés. Estava até intrigada quando ela me abordou perguntando de onde era meus sapatos. Ficamos inseparáveis. Hoje ela reconhece um Sarah de longe.
Não foi uma nem duas vezes que já me pararam na rua para elogiar meus sapatos.
Mas quando mudei deixei metade de meus sapatos. Mesmo assim ainda trouxe muitos pares.
Com o tempo, e com a mudança de estilo de vida, fui alterando minhas preferências para saltos mais quadrados, menos altos e mais confortáveis. Ando muito a pé por aqui. Tive uma vez até de trocar a sola de um sapato, coisa que nunca tinha acontecido antes comigo no Brasil. Aqui a gente literalmente gasta a sola do sapato.
Adotei o princípio que se um entra, outro sai do armário. Se não, nada cabe na sapateira, além de ser uma maneira de desapegar. Tem funcionado...
Sempre andei descalça em casa. Tirar os sapatos era a primeira coisa que fazia quando chegava em casa. Mas não tinha nenhuma convicção atrás deste hábito. Sempre achei mais confortável, só isso.

Demorei porém para entender o hábito suíço de tirar sapatos dentro de casa. Nas casas suíças existe uma sapateira na frente da porta, muitas vezes do lado de fora, onde as pessoas deixam seus sapatos para entrar.
Por trás deste hábito existem possíveis razões:

O número de bactérias que existem no chão da rua é imenso e tirando os sapatos evitamos contaminar a casa. Lí outro dia um estudo que media as bactérias na sola dos sapatos, fiquei enojada, e não é difícil de imaginar o por quê...

Outra teoria é que o Suíço tem menos acesso a ajudantes para as atividades domésticas, eles custam muito caro aqui. Quem faz a faxina é o dono da casa mesmo. Tirando os sapatos mantemos as casas mais limpas. Simples assim.
Existe também uma linha mais oriental, que diz que deixando os sapatos na rua a gente deixa também as impurezas espirituais, protegendo a energia do lar, considerado um santuário. Com os sapatos, abandonam-se preocupações e os problemas.
Tem também uma referencia a humildade e respeito. A mesma sensação de quando se entra em uma mesquita. O mesmo simbolismo de Jesus descalço.
Portanto, se o anfitrião estiver descalço, é um gesto de gentileza tirar os sapatos também. Prefiro espontaneamente oferecer tirar que o constrangimento de ser solicitada. E eles solicitam sim, sem o menor constrangimento.
Na minha casa cada um faz o que quer, sem imposições. Gosto que meus convidados se sintam confortáveis, seja como for. Eu ando descalça, por que adoro, sempre adorei. Meu Suíço vestia até pouco tempo uma pantufa, eleita uma das coisas mais feias existentes no planeta Terra, que com a graça de Deus foi recentemente substituída por uma alpargata da Havaianas amarela.
O que me mata mesmo é em festas, quando me produzo, escolho cuidadosamente meu sapato e tenho que deixa-lo enfileirado, entre outros não tão charmosos como o meu. Covardia!
Agora tenho que sair atrás de meias maravilhosas e charmosas.