Uma amiga canadense foi uma vez em casa e ficou fascinada com meus quadros. Eu, quando mudei definitivamente para Suíça, trouxe algumas telas que tinha. Nada especial, mas todas escolhidas com história e carinho. E claro, se são minhas é porque gosto!

Ela ficou fascinada com as cores e disse: “Os países tropicais tem cores que a gente não encontra em outros lugares”. E insistiu: “Teca, um dia você poderia me trazer um quadro do Brasil?”. Sorri. Nem disse que sim nem que não. Quadro é muito pessoal, não é fácil de escolher e é um pepino pra transportar. Ficou naquilo mesmo. Me senti até lisonj32eada com a confiança que ela demonstrou no meu gosto.
Aquele comentário me fez observar as coisas por uma outra ótica.

No Brasil somos coloridos. Em tudo. As casas, as roupas, os acessórios, as lojas, os dias, as flores. Tudo tem cor, muita cor! Somos um país super colorido e visualmente muito estimulados. Penso que as cores fazem com que sejamos mais alegres, elétricos. Somos exuberantes, como já ouví mais de uma vez por aqui.
Já foi provado através de estudos sérios que as cores influenciam os comportamentos. Existe a cromoterapia, milhões de tratamentos alternativos que usam cores, consultoras que dizem a cor para determinado ambiente e seus efeitos e milhões de explorações na área de marketing. Elas estimulam nosso cérebro, mudam nosso humor, relaxam, distraem.
É impressionante como o mesmo objeto, quando pintadas com cores diferentes, traz sensações e experiências distintas.
Pois é. Mas não foi estudando nem lendo que percebi no suíço o efeito das mudanças das cores.

Quando cheguei para a minha pós graduação, em julho, a Suíça estava toda colorida, com dias ensolarados e muitas flores. As pessoas tinham a pele dourada do sol e vestiam roupas leves e coloridas. O sol brilhava até as 10:30 da noite! Os supermercados ofereciam uma opção imensa de frutas e legumes. Tinha aroma colorido nos quatro cantos. Tudo estimulava, era vibrante, intenso, brilhante, cheguei.
Ai veio o outono, quando tudo ao nosso redor assume cores menos vibrantes. Predomina o amarelo, o laranja, o vermelho e o marrom. O verde bandeira vira verde garrafa. Os diversos tons existem mas são menos cheguei. Eu amo ver as cores mudarem e adoro o visual desta estação mas aprendi que junto com ela vem a diminuição do dia, que fica mais curto diariamente.
Em uma determinada semana em Novembro, todos os meus amigos da pós começaram a adoecer. Faltavam, se trancavam em seus quartos. A escola ficou de repente silenciosa, menos animada, mais quieta. Eu mesma, que tinha o maior pique do mundo, desanimei. Pensei até em matar umas aulas.
Intriguei com meu comportamento e minha motivação pois sinceramente, não sou disso. Liguei então meu desconfiometro para tentar entender o que acontecia ao meu redor.

Incrível! Percebi que as pessoas se vestiam naquela época mais de preto e cinza. Os dias nublados e escuros não motivavam a nada. Todo mundo se arrastava, sem pique ou energia.
Existe até um nome para isso: Seasonal affective disorder (SAD). Engraçado que a sigla é SAD, triste em inglês. Enfim, é uma doença que deprime, desmotiva, traz uma tristeza temporária, tudo provocado pela mudança da estação.
Protestei contra o desanimo. Lembro que meu maior protesto foi vestir meus sweaters mais coloridos.
A gente precisa brigar para não se afundar com a chegada do inverno.
Uma semana em Novembro, que se repete em quase todos os anos.

E depois, depois que o inverno inevitavelmente chega, vem dezembro, as luzes de natal, as nevascas, as comemorações de final de ano. Tudo colorido de volta. Outro astral!
Curioso que quando eu morava em São Paulo usava muito mais preto que aqui....
Aqui aprendi a remar contra. Essa SAD não me pega mais não. De propósito, sou sempre a mais colorida, independente da estação. E gosto assim!