
A saga do nosso cachorro continua. Aliás, está ficando mais e mais intensa.
Marquei o curso prático com uma orientadora indicada por uma vizinha austríaca. Bem raro aqui no país da antecedência, mas consegui agendar para o dia seguinte. Maravilha, bom sinal, as coisas estão andando na direção certa!
Norte de Lausanne, duas sessões de três horas, Terça feira das 18 as 21 horas. Fomos. Meu Suíço saiu cedo do escritório. Outro bom sinal, comprometimento!
Neve no caminho. Um acidente aconteceu há alguns segundos com um carro bem na nossa frente. O carro pega fogo no meio da estrada. Muita neve.
Chegamos cedo porque a brasileira aqui tem horror de ser chamada de brasileira por atrasar. Quero que lembrem de mim como brasileira pelas coisas boas, não pelos esteriótipos ruins. Sentamos e esperamos os suíços atrasados presos no trânsito causado pelo incêndio. Eles ligavam para dar o boletim do trânsito a cada cinco minutos. Atrasam, mais avisam.

Para garantir que sairíamos as 9 horas, avisei a instrutora que tinha jogo do Barcelona aquela noite na televisão. Ela tinha cara de que poderia falar de cachorros até a meia noite sem se cansar.
E com quase 30 minutos de atraso, o curso começou. Dois cachorros minúsculos na sala, daqueles que cabem na bolsa, sete pessoas mais a instrutora.
Os cachorros não se adoraram de cara. De tempos em tempos tínhamos que fazer pausa para os dois fazerem xixi ou para apartar a briga.
A aula foi bem dinâmica e ilustrada com vídeos e slides bem feitos. Claro que como o assunto é apaixonante, todo mundo quer contar as experiências com seus pequenos queridos. É como chá de bebê lotado de mamães inexperientes mas orgulhosas.
Logo descobri que a nossa instrutora é suíço alemã. Rígida, ela parece dar uma educação militar aos cães (e quem falou de esteriótipos mesmo?). Aparentemente funciona pois depois vim a saber que ela é autoridade incontestável para os assuntos de cães na região.
Achei alguns tópicos interessantes e aprendi coisas que não sabia.
Falamos muito sobre a socialização dos cachorros. Faz sentido. Nunca havia pensado nisso.
Contrário do que aprendi, quanto mais eles saírem para a rua pequenos, melhor. Quanto mais
eles experimentarem, menos vão estranhar. Têm que ser expostos a tudo, de trator até motorcicleta, passando por escada rolante, gatos, outros cachorros, negros, crianças, bebês, pessoas em cadeira de roda, cavalos, tudo!

Discutimos também as obrigações dos proprietários, legislação, direitos, coisas que devemos estar atentos. O mínimo de infraestrutura que precisa estar no lugar para poder receber o animal em casa, onde dormir, o que fazer e o que não fazer desde o início. Ufa. Tiramos várias dúvidas, até algumas que não tínhamos.
E aí ela nos explicou a regra de ouro. Se o cachorro perceber que o chefe é você, ele te respeitará caso contrário, você vira refém dele. Ele precisa saber que é você quem decide quando ele come, quando ele se comunica com você, quando ele entra ou sai da casa e assim vai. Disse até para ignorar o cão quando chegar em casa. Essa parte achei meio militar. Sinceramente...
E Meu Suíço fez a pergunta fatídica: a partir de qual idade que poderemos deixar nosso cãozinho em algum lugar para viajarmos. Ela exitou e disse que leva os dela onde vai. Depois disse que só depois de um ano. Oi? Nem preciso dizer que Meu Suíço acha que nosso só deve chegar em Setembro.
Armei um barraco! Sete meses depois de eu ganhar que recebo meu presente? Ele me golpeou com a ameaça de não ir para as Olimpíadas em Agosto. Vai ver eu mereço!

Saímos da primeira aula quietos. Mais na frente, no caminho, observando a neve caindo no vidro, arrisquei: “Ela não é Deus. Vamos ter que ouvir outras opiniões e acabar fazendo do nosso jeito”.
Ele sorriu. Traumatizado, perguntou se um “goldfish” seria mais fácil que o nosso futuro “golden retriever”.
Terça feira que vem tem mais!