
Eu adoro vinho. Surpresa nenhuma. Acho que sentar ao redor de uma mesa bem posta, com um bom vinho, boa comida e uma boa conversa sinceramente, não tem preço.
Vinho por aqui é bem popular. Faz parte da cultura suíça tomar vinhos acompanhando as refeições, mesmo no almoço, no horário de trabalho. Tudo é motivo para rolar o que eles chamam de apéro, a versão suíça para o nosso happy hour, ou um apertivo: aniversário, um coquetel, uma palestra, um encontro com amigos. No jantar, é praticamente obrigatório consumir uma garrafa. Vida dura a daqui!
Inevitável, aqui descobri o vinho suíço e logo me adaptei ao hábito de beber esta delícia.
Adoro o vinho branco suíço, simples, fácil de tomar e com um sabor diferente dos que encontrava no mercado chileno e argentino.
A uva branca chasselas, a mais plantada na Suíça, é pequenina e saborosa. Não muito doce, como prefiro. Ainda por cima é minha vizinha, literalmente vivo rodeada de vinhedos. Por não ser muito complexa, é possível encontrá-la em versões simples, deliciosamente bebível, ou em grand crus mais elaborados.
Já disse em algumas outras oportunidades que o vinho tinto Suíço não é o meu preferido. E antes que me entendam mal, explico que já tomei alguns maravilhosos mas sinceramente, acho que oferece um custo benefício caro comparado com as opções disponíveis no mercado. Claro que Meu Suíço adora valorizar o mercado interno e acabamos degustando boas versões do tinto suíço. Eu aprovo. Mas quem compra tinto suíço aqui em casa é ele.

Eu me surpreendo muito com as promoções daqui. Os supermercados oferecem até 50% de desconto em alguns itens e os vinhos estão muitas vezes inclusos.
Nas caixas de cartas daqui os habitantes optam por aceitar ou não propagandas. Claro que eu aceito, e meus olhos vão inevitavelmente para oferta de vinhos e de produtos de limpeza. Em um país sem inflação, e sem aplicações financeiras rentáveis, a economia é realmente real! Nem preciso explicar como encho nossa adega.
Ainda me choca que alguns vinhos argentinos e chilenos consigam cruzar um oceano, ser manuseado por mão de obra realmente cara, e chegam por aqui custando menos que no Brasil.

Semana passada fui ao supermercado e encontrei uma caixa do vinho Marques Casa Concha, Cabernet Sauvignon, de CHF 101.70 por CHF 76.20. Acontece que naquele dia os vinhos ainda estavam 20% mais baratos, ou seja as seis garrafas sairam por CHF 61.00, ou CHF 10.15/garrafa. Com o dólar alto, ficaria aproximadamente R$ 40,00 a garrafa. O mesmo vinho eu encontro hoje na internet em São Paulo por R$ 100,00. Incrível não?
O Argento Reserva Marbec, vinho simples e barato, nada especial, chega aqui a R$ 17. O preço mais baixo que encontro na internet hoje é de R$ 44.00. Mais que o dobro. Triste, não?
Ontem fui novamente ao supermercado e encontrei um vinho espanhol que adoro, Marquês de Riscal Reserva, excelente safra 2011, em promoção. Paguei CHF 11,50 a garrafa. Inevitavelmente lembrei do Papai, com quem já tomei algumas garrafas deste delicioso vinho.
Vinho tem dessas coisas, eu sem querer associo as garrafas a situações que vivi. Marquês de Riscal é um vinho tem algumas histórias impagáveis na minha vida.

A noite, liguei para Papai. Entre um assunto e outro, coincidentemente ele confidencializou que cedeu à tentação e comprou umas garrafas desta delícia. Deixei ele viajar, elogiar a aquisição e contar do aroma de madeira exalado assim que ele abriu a garrafa, despejando o vinho no copo. Consegui imaginar o prazer que ele sentiu em beber aquele vinho e até ví suas bochechas ficarem vermelhinhas depois de alguns goles.
Então reagi: “Não acredito! Hoje mesmo comprei umas garrafas por aqui também. Em promoção, 2011, mas ainda não tomei porque estou de regime”. Tristemente, descobri que paguei menos de um terço do valor que Papai pagou nas garrafas dele. "Mais uma razão para vir me ver", provoquei!
Infelizmente tenho constatado nas minhas idas para São Paulo que os vinhos estão virando um luxo de elite. Que erro. Que pena.
Democracia não é também deixar que todos possam se beneficiar de produtos, serviços e hábitos de qualidade? Pois é...
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