Para quem gosta de festa e de conhecer pessoas novas, a Festa dos Vizinhos é um prato cheio.
Festa que já teve diversos nomes, Festa do Vizinho, Festa do Prédio, Refeição do bairro, Festa da Rua, Jantar dos Vizinhos e onde, independentemente do nome adotado, o objetivo é sempre o mesmo: aproximar e quebrar o gelo entre vizinhos.

Começou timidamente nos anos 90, no sul da França. Com o sucesso, foi adotada em mais e mais cidades até cruzar a fronteira Francesa e passar a integrar nos anos 2000 o calendário Belga. No mesmo ano 2000 autoridades francesas organizaram e estruturaram a iniciativa nos bairros de Paris. Pronto. De lá virou um sucesso e cruzou mais e mais fronteiras. Hoje a Festa do Vizinho é comemorada em muitos países europeus e até no Canadá.
Vista como uma oportunidade de integrar a vizinhança, diminuir a intolerância e aumentar a segurança nos bairros, a iniciativa rapidamente extrapolou a organização voluntária de vizinhos e tem sido mais e mais estimulada por associações e prefeituras.

Aqui na Suíça algumas prefeituras estruturam a comemoração. Lausanne, além de espalhar outdoors para promover a iniciativa, entrega para os organizadores cadastrados kits contendo balões, decoração, placas para identificação da festa, produtos locais para serem servidos e até camisetas, para que os anfitriões sejam facilmente identificados.
Como vivi em Lausanne, e adoro uma festa, observava atentamente os outdoors promovendo a iniciativa mas nunca soube de nenhuma festa perto de casa. Nunca participei por lá.
Quando mudei para Saint Prex, me apaixonei de cara pela Festa Janelas do Advento, que acontece no nosso bairro durante o mês de Dezembro, mas observei que não existia nenhuma iniciativa para a Festa dos Vizinhos. Até que resolvemos fazer a nossa.
Meu Suíço é festeiro como eu portanto, resistência zero na iniciativa.

Comecei então a listar quem convidaríamos e ele logo reagiu: “Se é Festa dos Vizinhos, tem que ser portas abertas”. Concordei. Copiamos o endereço dos vizinhos listados na Janela e enviamos um email convidando todo mundo. Por sorte acrescentamos um “RSVP até o dia X”.
Timidamente um e outro email começou a pipocar. Confesso que fiquei desapontada. Esperávamos uma resposta massiva.
Dois dias antes do dia X, comecei a receber uma enxurrada de emails, confirmando famílias e famílias. Por sorte a maioria oferecia trazer algo, e eu respondia feliz agradecendo e sugerindo trazer um prato salgado.
Na última Sexta Feira do mês de Maio, data oficial da Festa do Vizinho, São Pedro foi generosíssimo e nos enviou a primeira noite quente da Primavera. Perfeito! Faríamos a nossa festa no jardim.

Colocamos lá fora duas mesas grandes, espalhamos pratos e copos e montamos em um canto um bar com refrigerantes, água e vinhos. Servimos um vinho tinto produzido em Saint Prex por um vizinho querido, um Merlot muito bom. Claro, nada poderia ser mais adequado!
Espalhamos algumas flûtes e salgadinhos e colocamos um aviso na porta informando que a entrada seria pelo jardim. Como nossa casa não é murada, as pessoas entravam sem tocar campainha, logo se sentiam integradas e donas da festa, o que era nosso objetivo.
Marcamos a festa para começar cedo, uma vez que teríamos convidados de 1 a 80 anos. Pontualmente as 18 horas, famílias completas começaram a adentrar no nosso jardim trazendo pratos salgados, quiches cheirosas e garrafas de vinho.
Tínhamos confirmadas 65 pessoas mas alguns apareceram sem confirmação pois escutaram a animação das conversas e acharam que era uma festa que não merecia ser perdida. Tivemos quase 80 pessoas no jardim.
Clima delicioso, todo mundo feliz também com a oportunidade de estar no jardim a noite, depois de um longo inverno.
Como pedi para trazerem salgados, fiz algumas sobremesas que servi quando vi que alguns já começavam a querer partir. Delírio total da criançada e ataque dos adultos. Adoro fazer sobremesas.
Meu Suíço acendeu então o braseiro e o aquecedor externo.
Eu penei, e tive que pedir ajuda, para acender todas as mais de quarenta velinhas que havia espalhado por todos os cantos.
Ficou um cenário encantador. Adorável mesmo.
O fogo realmente fascina.

O clima de cordialidade e integração estava demais.
As crianças brincavam soltas na rua e adentravam nosso jardim de vez enquanto para comer e beber algo. Depois, cansadas da correria, deitaram de costas na grama e ficaram vendo e contando estrelas. Me transportei para Santa Rita, contando estrelas cadentes com meus primos.
O vinho, delicioso e sempre quebrador de gelo, tornou todo mundo ainda mais informal e divertido.
Os vizinhos não iam embora e nós, felizes, queríamos que aquela noite durasse para sempre.
A festa durou muito mais que pensavamos. Terminou para lá de uma da manhã e perpetuou nossa presença no bairro. Todo mundo agora nos chama pelo nome. E nós, apanhamos para lembrar quem é quem.
Este ano estou pensando em organizar de novo.
Depois conto.