
No final da minha pós graduação eu não queria saber de voltar para o Brasil.
Fiquei literalmente enrolando.
Meu estágio terminou na França no final de Junho de 2006. Época deliciosa na Suíça, verão chegando, dias longos, jardins floridos. Não tinha o menor interesse em voltar para São Paulo.
Aceitei o convite de ajudar um amigo alemão a mudar de casa. Aqui você precisa deixar o apartamento a ser entregue perfeito para a mudança dos novos inquilinos. Eu topei ajuda-lo e ficaria um mês por aqui. Ganhei tempo.

Terminou o mês e eu não tinha ainda comprado minha passagem de volta. E nem compraria.
Como não tinha filhos e nem marido, pagava minhas contas, o problema era só meu.
Me inscrevi em um curso de francês e aluguei uma quitinete. Tinha meu apartamento mobiliado e lindo, mantido com diarista uma vez por semana em SP. Mas queria ficar era na minha quitinete. Estava bem.
Decidir ficar na Suíça foi rápido para mim, o que foi difícil foi arrumar uma maneira de ficar.

Meu visto de estudante já tinha terminado. Não tinha passaporte europeu. Tinha que arrumar um trabalho. Na época, para conseguir um visto de trabalho, sendo brasileira, ou seja não suíça e não europeia, precisava ter qualificações e experiências únicas que justificassem a minha contratação.

Entrei em uma encruzilhada. Tinha vindo porque cansei da minha vida em São Paulo e da minha carreira em multinacional e a única maneira de ficar Suíça seria voltar para a minha profissão anterior.
Topei, aqui teria a qualidade de vida que me faltava lá.
Achei que a hotelaria e a cozinha poderiam esperar.
Sabia que as indústrias onde meu perfil caberia melhor estavam localizadas na Suíça alemã mas mesmo assim mandei meu CV para os quatro cantos da Suíça francesa.

Sempre tive duas certezas: Minha incapacidade, e falta total de vontade, de aprender alemão e minha necessidade de me comunicar na língua local onde eu vivesse. Melhor ficar na Suíça francesa.
Na época tinha uma vida deliciosa. Procurava emprego de manhã, ia para minha aula de francês, corria no lago ou fazia hikings em algum lugar espetacular, cozinhava novas receitas e me divertia descobrindo a Suíça com minha amiga inseparável, a Jô. Tinha amigos de todas as nacionalidades. Viajava sem parar. Vidão!
As vezes trocava minhas botas e tênis por um sapato mais comportado e ia para uma entrevista.

Até que cansei de receber "nãos" a toa. Procurar emprego em um país diferente, onde não se tem networking, definitivamente não é fácil.
Recebia todos os tipos de desculpas esfarrapadas: muito qualificada, pouco qualificada, falta de experiência nesta industria, pouco fluente em francês, falta isso, tem demais aquilo.
Uma chateação. Frustrante. Desanimador.
Até achei que já estava na hora de parar com a brincadeira e retomar minha vida de gente grande.
Pensei em jogar a toalha, algo muito difícil para mim.
Meus pais então perceberam minha aflição e em menos de uma semana apareceram por aqui. Precisavam me ver e talvez até me convencer que já era hora de voltar.

Nos encontramos em Paris.
Chegaram mais cedo que o esperado e, quando me viram, chegando feliz e suada de uma corrida no Jardin des Tuileries, olharam um para o outro. Se sentiram enganados. Esperavam me encontrar arrasada, acabada, deprimida. Mas não, me encontraram radiante. Quem não fica radiante em Paris?
Para Pai e Mãe, basta olhar nos olhos dos filhos que sabem na hora se a coisa vai bem ou vai mal.

Pedimos então champagne na recepção do hotel. Eu suada e eles cansados da viagem. Dane-se. Precisávamos comemorar.
Papai então, entre uma taça e outra, me disse: “Se você desistir agora, vai fazer a maior burrice da sua vida”.
Foi a energia que me faltava.
Claro que passamos na Rue de Bac, Capela da medalha Milagrosa. Lá mamãe e eu pedimos ajoelhadas no altar para que as coisas acontecessem de uma maneira que nos fizesse feliz.

De Paris seguimos em uma viagem deliciosa para a Normandia e para a região de Champagne.
Me recarreguei.

Nos recarregamos, os três.
Viagem deliciosa.
Mais que nunca descobri que ficaria por aqui.

Voltei para Lausanne e em menos de um mês, arrumei meu emprego e o visto que faltava para formalizar minha vida aqui na Suíça.
Tive que aposentar, durante a semana minhas botas e meu par de tenis mas, valeu a pena!
Faria tudo de novo!