
Há alguns anos atrás, um amigo foi me pegar em casa e desandou a desculpar-se de seu carro imundo. Eu nunca liguei para carro limpo mas a desculpa dele, que na época achei esfarrapada, me marcou. “Tempestade de areia do Saara”. “Ta bom”, respondi com deboche. Ele insistiu em me convencer. Debochei mais ainda.
Naquela época não falava muito bem o francês e muito menos assistia as notícias no jornal local.
E a história passou, esqueci.
Agora, depois de quase dez anos, assisto ao jornal local quase que sempre. Foi a maneira de melhorar meu francês e de me integrar mais rápido com os suíços. Recomendo. Depois das notícias aparece a previsão do tempo, assunto adorado pelos suíços, que começam qualquer papo falando do clima.
E de vez em quando eles noticiam tempestade de areia vinda do deserto. Claro que todas as vezes lembro daquela discussão. E não é que existe mesmo?


Se no Saara os ventos sopram forte em direção ao Norte, a areia do deserto pode viajar incontáveis quilômetros até chegar aqui. E o dia seguinte é catastrófico. Tudo o que está do lado de fora da casa fica coberto por uma poeira fina e avermelhada.
É possível enxergar a nuvem de areia do deserto durante o nascer do sol, quando ela aparece como uma névoa amarelada. Durante o dia, ela é uma nebulosidade visível somente perto do solo, pois suas partículas são minúsculas, medem entre cinco e dez micrômetros.

Outro dia acordei e a sujeira imperava lá fora. A mesa preta da varanda apareceu marrom e minha vespa ficou um horror. Aliás, ainda está. Precisa ser lavada.
Cerca de uma vez por mês elas aparecem por aqui, ainda mais na primavera e no verão quando a nuvem é trazida com ar quente que vem do norte da África.
Quando combinada com outros fatores esta tempestade de areia pode contribuir para desencadear crises em quem sofre de asma mas de resto, é só limpar tudo depois da estranha visita!