A primeira vez que eu vi um destes pequenos jardins, não gostei muito não. Achei meio esquisito, até um pouco desproporcional. Estas casinhas de madeira mais me pareciam uma mistura de favela com casinha dos sete anões. Não conseguia entender esta construção tão rústica e improvisada em um país tão desenvolvido como a Suíça.

Em Lausanne, por ser uma cidade maior, estas casinhas somente são encontradas ao Norte, no acesso das estradas que circundam a cidade. Não encontrava com elas direto, acho que por isso nunca investiguei.
Quando mudei para Saint Prex, onde a tal construção rústica é farta, não resisti e perguntei o que era aquilo. Me foi então explicado que as prefeituras muitas vezes têm terrenos no limite da área urbana e rural que não são utilizados. Para diminuir o custo de mantê-los limpos e cuidados, elas oferecem estes terrenos para serem alugados aos cidadãos por um preço quase que simbólico.
Normalmente alugados para pessoas que moram no centro da cidade ou em apartamentos, estes terrenos são usados para plantar pequenas hortas. É como se fossem a extensão da casa de alguém. São vários quintais porém sem casas. Muitas vezes um barracão é construído para guardar ferramentas e produtos.
Nossa vizinha aluga um embaixo da nossa casa, onde ela plantou árvores frutíferas: maçã, pera e ameixas. Ano passado ela resolveu fazer uma pequena horta mas não colheu muita coisa não....

Muitos dos terrenos são ocupados por aposentados que trabalham sem parar durante a primavera e verão. Alguns caprichosos plantam canteiros de flores e constroem até um terraço, onde fazem churrasco nos dias quentes.
Achei uma solução inteligente e fantástica. São muitos os benefícios:
- A prefeitura não tem despesas com esta área.
- Os aposentados se ocupam, se exercitam e ainda diminuem seus custos colhendo seus próprios legumes, geralmente orgânicos.
- Quase toda propriedade tem uma composteira, onde transformam o lixo vegetal em adubo. Bom para gerar menos lixo e para enriquecer o solo.
- As pessoas idosas se socializam com os vizinhos, que geralmente mantêm os mesmos interesses pelas práticas agrícolas.

Perto da nossa casa têm algumas destas construções. Passo a pé sempre por lá e geralmente na primavera paro para pedir alguns conselhos sobre a minha plantação de abóboras. Eles adoram participar e eu abuso!
Acho que pensam que a americana - para minha desgraça tenho sotaque anglofônico falando francês - com um sotaque exótico não tem muito o que fazer. Passo por lá cumprimentando e puxando conversa.

Uma vez um aposentado bem velhinho me mostrou com imenso orgulho tudo o que plantou. No final da nossa conversa ficamos prozeando e comendo umas framboesas que colhiamos diretamente do pé. Quando saí, ele gentilmente agradeceu a visita me oferecendo um pepino, que colheu na hora. Levei para casa. A noite fiz uma salada grega e senti um sabor que jamais senti igual... não sei se foi a frescura de algo colhido na hora ou o carinho que senti saindo dos olhos dele.
Depois que entendi o conceito por trás das pequenas hortas, comecei a acha-las até bonitinhas. Meus olhos e meu coração se acostumaram.