
Existem diferentes tipos de viajantes. Eu sou do tipo que prefiro estar com o pé na rua que ficar curtindo hotel. Acho que tem um pouco do que vivi em casa. Tínhamos que nas nossas viagens ficar espertas, atentas e totalmente acordadas. No menor vacilo Papai atacava “Vai dormir em dólar?”. Minhas viagens estavam mais para maratonas que para descanso. E o objetivo era esse mesmo, conhecer, aprender e ver o máximo que podíamos. Depois fui mudando um pouco e hoje acho que até encontrei um bom equilíbrio mas se tiver que escolher, continuo preferindo curtir o lugar que estou visitando que o hotel em si. Localização de um hotel, para mim, é tudo!
Lausanne é uma cidade onde encontrar apartamento para alugar pode ser um grande desafio. Os apartamentos são poucos, os preços são altos e quando vagos já têm uma lista de milhões de pessoas em fila de espera.
Encontrei meu apartamento meio que na sorte. Fiz como faço quando procuro um hotel: defini a localização e depois explorei como louca as oportunidades dentro daquela área. Meu apartamento havia sido anunciado de maneira errada, pura ineficiência da corretora, e eu que era flexível nos detalhes mas não na localização, fechei logo o contrato.

Viví naquela esquina por quase quatro anos. Tinha uma varanda mega grande onde descobri que gosto de jardinagem. O melhor restaurante de Lausanne ficava embaixo das minhas escadas. Há menos de dois quarteirões de casa tinha acesso a três pontos de ônibus e um de metro. A estação de trem ficava a 5 minutos de lá. E mais, estava a dois quarteirões, grandes por sinal, do lago e a 15 minutos de uma subida cardio para o centro da cidade. Não tinha vizinhos portanto podia fazer o barulho e as festas que eu bem entendesse na minha casa. Paraíso, quando não se pensava que o apartamento era antigo e implorava por uma boa reforma.
E eu amava. Minha varanda era conhecida em Lausanne. Não sei quantos jantares e festas fiz por lá. Fiz bons amigos e nunca andei tanto a pé na vida. Mesmo quando tinha carro, este ficava na garagem.
E na frente de casa, na esquina oposta ficava um hotel velho, o Savoy. Hotel que já tinha sido top, com hóspedes aristocráticos como a família real espanhola, que ficou exilada por lá, e o rei da Tailândia, que morou neste hotel durante sua juventude. O hotel mostrava bem sua decadência. Até o dia que ele finalmente fechou as portas.
Depois, chegou a fofoca que havia sido vendido para um grupo de investidores hoteleiro árabe. Começou a bateção. Reforma por alguns anos.
Eu perdi parte da reforma quando mudei para Saint Prex mas, sempre que perambulava em Lausanne visitava minha esquina e claro, observava os resultados visíveis da restauração faraônica.
Outono passado ele finalmente abriu as portas. Inaugurou parte e continuou a obra do que faltava com discrição. Ocorreram alguns boatos que contas ficaram pendentes. Enfim, colocaram toneladas de dinheiro para manter o estilo e atualizar.
E eu sempre ouvia as notícias com curiosidade afinal, era minha esquina.


Até que aconteceu que, em abril passado, Meu Suíço teve uma reunião importante em Lausanne. Reservou um quarto de hotel na cidade pela conveniência de estar perto do pessoal que certamente ciceronearia. E eu fui parar lá, dormir do outro lado da mesma esquina, durante uma noite que tivemos um jantar em Lausanne.
Fiquei muito admirada com as instalações e com o serviço que o hotel hoje oferece. Em dois minutos me senti em casa.

Tudo super high tech para os padrões suíços. Tínhamos até uma televisão de espessura milimétrica na super confortável banheira.
Achei que as coisas eram chiques, mas sem frescuras, modernas mas sem excessos e sempre mantendo a história e tradição que aquele prédio representa.
Agora Lausanne tem três tops hotéis de luxo. O Lausanne Palace, que fica no centro da cidade, O Beau Rivage, que fica em Ouchy, na beira do lago e agora o Savoy, na minha esquina. Sempre elegi o Beau Rivage como meu preferido mas agora, por motivos óbvios e com esta localização top, me sinto um pouco dividida.