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Andar nas montanhas do Jura, em Mollendruz


No Brasil, de vez em quando saia do meu apartamento na Vila Madalena a pé e ia andando, até cansar. Cruzava a cidade e depois, no meu destino, pegava um taxi e voltava para casa. Adorava, porém as calçadas irregulares, a violência urbana, o descaso dos motoristas com os pedestres impediam que meu programa fosse totalmente relaxante. Uma pena.

Quando mudei para a Suíça, continuei com minha carreira de Forrest Gump. Conheci lugares divinos, e seus pequenos detalhes, andando.

Observei que enquanto eu ando livre e sem incertezas, libero todos os meus sentidos, que ficam super aguçados. Sinto cheiros, vejo detalhes, ouço a natureza, percebo o vento. Até o gosto das framboesas selvagens colhidas na montanha são diferentes.

Me recarrego e me inspiro.

Para mim não é necessário sol nem céu de brigadeiro para uma boa caminhada. Muitas vezes saio para caminhar com um tempo mais ou menos e mesmo assim me delicio.

Um dos meus destinos preferidos é Col de Mollendruz. É uma serra nas montanhas do Jura que liga Lausanne e Morges ao Vallée de Joux, no cantão de Vaud. Da estação de trem de Morges são 30 minutos de carro, 26 kms passando por regiões rurais lindas. A estrada é super bem mantida e cheia de curvas, que nos surpreendem revelando a paisagem desbundante das montanhas.

Com uma altura de 1180 metros acima do mar, no inverno a região tem neve suficiente para se tornar uma pista de snowshoeing e de esqui nordico. No verão vira um parque delicioso para caminhadas sem fim e mountain bike.

Meu Suíço viajou em um dos finais de semana no começo da primavera e fui então para lá com Fiona, minha querida amiga inglesa. Dia nublado mas, quem liga para isso? Foram 3 horas e meia de caminhadas. Claro que teve muita tagarelação pelo caminho, afinal tínhamos que colocar os assuntos em dia.

O que é desbundante é que durante nossa longa caminhada cruzamos com pouquissimas pessoas. Foi como estar em um parque privado. Adoro. Me sinto super segura nas montanhas. Em momento algum penso que posso ser abordada por algum estranho aproveitador ou me perder, pois as trilhas são super bem demarcadas.

E passamos por fazendas lindas, antigas. Muros de pedras, que devem ser de alguns séculos passados. As propriedades privadas daqui permitem que os pedestres de montanha passem, é só respeitar e fechar as porteiras.

Neste nosso passeio que farejei o alho dos ursos. Escrevi sobre isso aqui.E percebemos a chegada da primavera na montanha, pelas mínimas flores que saiam do meio da grama adormecida pela neve. A primavera chega mais tarde nas montanhas mas, quando chega, é sensacional!

Aprendi que é preciso levar o mínimo do mínimo, por precaução a mudança climáticas que são constantes nas montanhas. Levo sempre um chapéu, óculos, alguma coisa para comer, muita água, se bem que no caminho geralmente encontrarmos fontes potáveis para recarregar as garrafinhas, uma jaqueta que corta vento e um bastão que protege meus joelhos nas descidas. Levo sempre uma câmera e claro, meu celular. Visto minhas botas, que tenho há 10 anos e conhecem meus pés como ninguém, boas meias e pronto.

A gente vai andando, sente o corpo esquentar, entra em um ritmo constante e segue sem pensar, meio na inércia do passo. Uma delícia.

Mas o melhor mesmo é chegar em casa, tomar um banho quente e começar a sentir todos os músculos esquecidos do corpo se manifestarem. E dormir como uma pedra, feliz e exaurida.

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