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Viver fora do próprio país


Tenho visto alguns artigos interessantes sobre desapego e mudanças radicais de vida. Percebo que mais e mais as pessoas estão questionando o que vale e o que não vale a pena viver. Com a crise econômica e moral que o Brasil enfrenta, vejo muitas pessoas desencantadas, querendo romper com tudo e partir de vez.

O questionamento virou um bom hábito que incorporei. Questionar diariamente o que me faz feliz só tem agregado na minha vida. Desligar o piloto automático e pegar a direção tem um gosto para lá de especial.

Mas meu maior questionamento aconteceu há mais de dez anos e desencadeou o rompimento com minha carreira e com vários valores enraizados que tinha na época. Foi assim que me deparei na Suíça.

Repensar é bom. É um processo sem fim. Não é nada fácil, mas é provadamente recompensador.

O que muitos não esperam, e as vezes nem estão preparados para encarar, é que depois da mudança e do vendaval vem mais vendaval pela frente.

A vida nunca é só flores e as nossas escolhas sempre acarretam em ações e em inevitáveis reações. Independentemente da escolha que tomamos.

Mas afinal, vale a pena uma guinada radical? Depende.

Existem pessoas que se sentem melhores e mais seguros ficando na famosa zona de conforto. E qual é o problema?

Se habituar e viver com segurança não é de todo mal, pelo contrário. Não tem nada de errado em alcançar viver uma vida tranquila, estruturada, previsível.

Lembro da analogia que se fez quando o mundo empresarial finalmente atentou para o fato de que nem todos querem ser presidentes em uma organização. Toda empresa tem que ter os carregadores de piano, sem eles a coisa não anda. Nada de errado em carregar diariamente um piano, desde que este seja devidamente bem carregado!

Viver fora do próprio país não é algo apreciado por todo mundo. Quantas pessoas não querem abandonar sua língua, seus amigos, sua cidade, sua cultura? É corajoso ser apegado as raízes.

Ouvi outro dia que viver um tempo fora desenvolve a tolerância**. Nada mais verdadeiro.

**A tolerância, do latim tolerare (sustentar, suportar), é um termo que define o grau de aceitação diante de um elemento contrário a uma regra moral, cultural, civil ou física. Do ponto de vista da sociedade, a tolerância é a capacidade de uma pessoa ou grupo social de aceitar outra pessoa ou grupo social, que tem uma atitude diferente das que são a norma no seu próprio grupo. Numa concepção moderna é também a atitude pessoal e comunitária de aceitar valores diferentes daqueles adotados pelo grupo de pertença original.

Tolerar erros, encarar e aprender com opiniões radicamente contrárias a sua, tolerar o próprio desconhecimento, explorar novas propostas, conviver com outros valores. Ter que rever conceitos básicos, redefinir "O que é o sucesso?", se auto desafiar diariamente com coisas absolutamente triviais e estabelecer novas metas para a vida são coisas que fazem parte do pacote da mudança.

Faz também parte do pacote se excluir do absolutismo de dois mundos. Nunca se volta a ser 100% brasileiro e nunca se será 100% estrangeiro. Viramos híbridos. Mais um dos preços a pagar.

A vida no exterior é uma constante provação. Nem sempre o céu é azul. Mas as experiências, cada pequena conquista, os questionamentos, a curiosidade despertada, tudo isso, quando bem vivido, tornam a vida mais interessante. São lições únicas.

Não são todos que precisam e procuram este tipo de desafio. Sempre existirá oportunidade de buscar o diferentes em outras coisas. Mudar é só uma das opções. O que funciona para um não é necessariamente bom para o outro, ainda bem!

Viver fora do país é para todos? Certamente não. Morando fora ví expatriados contando os minutos para voltar para casa, deixando a Suíça, que eu adoro, para trás.

Para mim sair do Brasil foi uma decisão radical, mas muito bem pensada. Decisão tomada e vivida com todas as consequências que o pacote trouxe. E valeu? É claro que sim, continuo aqui. Nunca fui mais feliz.

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