O perche é um peixinho pequeno, que dá geralmente em lagos. Ele não vem exclusivamente dos lagos Suíços, mas é inegável que o suíço prefere o daqui.
No Lago Genebra ele dá de montão mas não é pescado durante o ano inteiro, pois a pesca é regulada. Existem períodos específicos para pescar, observando o ciclo de vida do peixe e assim respeitando e protegendo as espécies.

Na Suíça francesa o filé de perche é um dos pratos típicos mais apreciados. Alguns restaurantes escrevem orgulhosos na porta de entrada que a especialidade da casa é o tal filé.
Lí em um jornal que quando os suíços ligam para fazer reservas nos restaurantes, perguntam de onde vem o peixe. Se não for do Lago Genebra, um em cada três cancela a reserva. Suíço é assim mesmo, super bairrista!
Eu não era muito fã dele não. A primeira vez que comi achei que o peixe estava navegando em um mar de manteiga. O peixinho é pequeno e a maneira tradicional de servi-lo é frito na manteiga, ou à la Meunière. Dá-lhe gordura! Descobri que para que ele fique delicioso é preciso frita-los um a um, e na hora. A manteiga deve ser limpa e trocada a cada fritura, para não queimar. É um processo quase que artesanal que nem todo o restaurante consegue seguir com louvor. Para piorar, ele geralmente é acompanhado de batatas fritas, mais fritura. Bastou uma primeira provada e tiquei da minha lista. Nunca mais pedi.

Acontece que Meu Suíço, como a maioria daqui, adora. Em St Prex tem um restaurante especializado no tal peixinho que é reconhecido, para o orgulho dos locais, como o restaurante que faz o melhor Filé de Perche no Lago Genebra. Claro que tive que rever meus conceitos e re-experimentar.
O restaurante de St Prex, La Croix Fédérale, é tradicional. Tem uma área na frente, que eles chamam de bistrô, mais informal, com mesas de madeira do tipo bistrô e jogos americanos de papel. As paredes são pintadas mostrando algumas das construções medievais da cidade. Na parte de dentro, parte que chamam de restaurante, as mesas são postas com toalhas engomadas. A cozinha é a mesma. Pessoalmente, prefiro o bistrô, onde a gente acompanha o vai e vem dos clientes em um ambiente mais casual.
Eles servem o filé de perche em dois tamanhos, 150 e 220 gramas. Eu sempre peço o menor e Ele o maior.

Além do tal peixinho frito da maneira adequada, e acompanhado de uma batata super sequinha, o restaurante de St Prex tem o Naigel, um garçom da Macedônia, que fala pelos cotovelos e que conhece todos os clientes pelo nome.
Naigel é terrível. Tornou-se amigo do Meu Suíço, que se intitula o melhor cliente do restaurante. Lá sempre nos sentamos na mesma mesa, localizada estrategicamente no canto e servida necessariamente por ele. Uma única vez não sentei naquela mesa, a vez que fui sem Meu Suíço, quando recepcionava uma amiga de infância. Naigel nos sentou em outro canto. Safado. Acho que foi sua maneira de silenciosamente protestar.
Depois que me conheceu, Meu Suíço diminuiu suas frequentes visitas por lá.
Naigel decide o que vamos comer de entrada, quase sempre um fricassé de champignon delicioso, pois o prato principal é o filé de perche, claro. Ele sugere o vinho, conversa sobre futebol, provocar a ira do Meu Suíço criticando Roger Federer e muitas vezes não nos deixa comer isso ou aquilo, pois não está da maneira que gostamos. Lá seguimos instruções. Não somos loucos de discordar.

O restaurante foi comprado há uns três anos por um francês gordinho que viveu na Argentina. O dono entrou na enturmação do Naigel e na época da copa do mundo me provocou direto. Até hoje me vê e sugere 7x1 e eu entro na onda perguntando qual a seleção que tem mais títulos no mundo. Eterna discussão.
Recentemente arrisquei e comprei filé de perche para fazer em casa. Meu Suíço foi ao delírio. Confesso que ficou delicioso, pois fiz bem sequinho e com tempo. Aprendi que não existe nada igual a uma comida feita com paciência e amor. Meu Suíço aprovou e decretou que os dias da Croix Fédérale estão contados. Eu duvido. Hoje em dia questiono se vamos lá pelo Filé de Perche ou pelo Naigel.