Faz algum tempo quando eu trabalhava no computador e escutei uma barulheira diferente vinda de fora. Morando no limite da área urbana e rural aquela movimentação não era usual. Claro que despertou minha curiosidade. Corri para a janela.

Bisbilhotando, vi umas vinte crianças de mais ou menos 8 anos soltas na rua, caminhando e conversando animadamente. Arrastão, pensei já rindo de uma ideia absolutamente improvável na Suíça.
Cada criança carregava um saco plástico e todas usavam um boné verde. Um adulto acompanhava aquele grupo mirim.
Logo imaginei que as crianças estavam em alguma aula de ciências, catando insetos pelos jardins. Moramos bem próximos a uma escola. Mas observando melhor, vi que nos sacos plásticos tinham pequenos lixos, não insetos.
Fui me informar sobre o que aconteceu e me explicaram que uma vez por ano os alunos das escolas do cantão de Vaud vão para as ruas recolher lixo. Tudo o que estiver no lugar errado vai para o saquinho: bitucas de cigarro, pedaços de plásticos, papéis, embalagens. E mais, este programa é para todas as idades vão, da criancinha inocente até o adolescente descolado. Sem choro nem vela.
Minha primeira reação foi: “Mas a Suíça já é tão limpa”. É claro que é limpa, pois a limpeza é tão séria por aqui que é ensinada nas aulas. É limpa assim exatamente pelo fato de educarem as crianças desta maneira. Duvido que depois de recolher lixos pelas ruas estes pequenos não pensarão duas vezes antes de jogar qualquer coisa no chão.
Instintivamente começo a imaginar que se tal programa acontecesse do outro lado do oceano, alguns adolescentes reagiriam: “Que mico, catar lixo na rua? ” Pais protestariam: “Não pago uma fortuna nesta escola para meu filho fazer faxina”. Será que estou sendo muito crítica, talvez!
Aqui não tem espaço para mãe e pai acharem um absurdo seus pequenos catarem lixo. Atestado médico não colaria no dia da faxina! Pelo contrário, não só fazem o programa como aprendem desde cedo a ajudar na limpeza da casa.
As crianças aprendem desde cedo que são responsáveis pela limpeza de seu país e que não existe trabalho ruim ou bom. Todos são importantes e necessários. Bravo!
Agora, quando vejo as ruas praticamente brilhando na Suíça, sei que não é a toa. Existe muita educação, planejamento e comprometimento para que as coisas funcionem por aqui.