Não faz muito tempo que comecei a notar que na Suíça o serviço público funciona de uma maneira interessante. Os serviços básicos estão disponíveis para toda a população. São mantidos com os impostos pagos por todos os cidadãos e não existe nada de novo nisso.

Os serviços que aqui eu chamo “Serviços de exceção”, estes sim são tributados diretamente para quem os ocasionou. Me explico. Se é organizado um carnaval de rua que faz uma sujeira excepcional nos lugares públicos, cabe à organização do carnaval pagar os custos ligados a limpeza da rua.
Este ano passei o Carnaval em Chur, na Suíça alemã. Lá eles vendiam um broche ao público com CHF 10.-, ou quase R$ 35,00 para os expectadores. A compra não era obrigatória, mas todo mundo comprava o tal broche. Perguntei então quem ficaria com o dinheiro e me disseram que a venda era para cobrir os custos de limpeza e preparação do carnaval. Democrático não? Quem não gosta de carnaval fica em casa e não gasta um centavo a mais com a festa.
O mesmo se passa se eu faço algum barulho imenso depois das 22hs, ou aos domingos, e meus vizinhos chamam a polícia. Sim, aqui eles chamam a polícia para reclamar de barulho. Pois bem, se isso acontece, a polícia bate na minha porta. Se constata que eu realmente estou abusando, eles me mandam a conta dos serviços administrativos de tal visita. A ideia por traz é a seguinte: se eu não estivesse fazendo barulho, os policiais não teriam que se deslocar, gastando tempo e combustível. E mais, porque alguém que respeita o silêncio deve pagar mais impostos para cobrir os custos adicionais que eu barulhenta gerei? Interessante, não?

Com o lixo, a lógica é mais ou menos a mesma. Aqui a reciclagem é super incentivada mas, se alguém resolver não reciclar nada, tudo bem. Este alguém pagará o preço de gerar mais lixo. O que ocorre é que os sacos de lixo daqui são taxados. Um saco de 35 litros, não um pacote de dez sacos, custa CHF 2, ou quase R$ 7,00. Só são aceitos sacos taxados. Se eu reciclar, precisarei comprar menos sacos, ou seja, economizarei. Se eu não reciclar, pagarei mais sacos de lixo, onde o imposto já está incluso. O problema é absolutamente meu, e a escolha também!
Mas o mais diferente de tudo é o imposto pago por quem tem um cachorro. Sim, todo cachorro é registrado na prefeitura, tem um chip de identificação implantado e paga impostos por aqui. Os impostos são para cobrir os custos do fiscal de cachorros, que de tempos em tempos param os proprietários para ver se os animais são regulares, e para pagar os custos de sacos de lixo que são espalhados pela cidade para recolher os cocôs das áreas públicas. De novo a mesma lógica: se eu não tenho cachorro, porque eu tenho que pagar por quem tem?
É natural reagir defendendo que este preciosismo no pagamento de impostos dos serviços de exceção só acontece por aqui em função da Suíça ser um país rico e organizado. Morando aqui há dez anos, começo a pensar diferente. Será que a Suíça não é rica e organizada exatamente por que tem preciosismo e seriedade no tratamento de seus contribuintes?