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Futebol com torcedores do mundo

Curiosamente, descobri que gosto de futebol aqui na Suíça. No Brasil assistia e acompanhava os jogos importantes em época de Copa mas pensando bem, acho que gostava mais da folia dos jogos que dos jogos em si.

Em 2006 teve a Copa do Mundo na Alemanha, pouco antes de eu vir para Suíça. Como estava sem trabalhar, aproveitei para assisti a quase todos os jogos com amigas, que também não trabalhavam na época. Exploramos todos os botecos da Vila Madalena. Os jogos aconteciam a tarde no Brasil, então juntávamos o jogo da tarde com a noite animada da Vila. Foi uma festa.

Em 2010, já na Suíça, comprei uma televisão especialmente para a Copa. Nunca fui muito ligada em assistir TV, nem tinha uma, mas Copa é Copa. Pendurei minha bandeira brasileira na varanda da esquina mais movimentada de Lausanne, onde morava, e assistia aos jogos ou na casa de amigos ou no telão de Ouchy. Como a Suíça e África do Sul têm o mesmo fuso horário, foi super conveniente!

Na Suíça um em cada quatro habitantes é estrangeiro. As cores de Ouchy mudavam todos os jogos, dependendo de quem jogava. Lá, uma espécie de Avenida Paulista de Lausanne, assisti alguns jogos no enorme telão colocado em frente ao Lago. Um espetáculo. Mas duro mesmo foi enfrentar os provocadores amigos Holandeses, exército laranja, logo depois de sermos eliminados.

A melhor lembrança da Copa de 2010 foi assistir a final com um amigo querido espanhol. Ele, no auge dos seus 50 e poucos anos, nunca tinha visto sua Espanha ser campeã. Chorou como uma criança no final do jogo. Me emocionei. Virei Espanha aqui na Europa.

Em 2012 que aprendi que a Suíça também para na EuroCopa. Sinceramente, nem sabia o que era isso. Naquela época já estava namorando Meu Suíço que não perde um único jogo. Diz que gosta do bom futebol. E é verdade. Como a Suíça nunca deu muitas alegrias no futebol, as expectativas não são tão altas como as nossas. Melhor para eles.

Eu ainda morava naquela esquina movimentada em Lausanne durante a Euro2012. Durante a semana mal dormia com o estardalhaço que os Portugueses faziam quando jogavam. Buzinaço por todos os lados. Nos finais de semana, ia para St Prex, onde me deliciava no telão do Meu Suíço. Simples como a maioria dos Suíços, seu único luxo é o home theatre desenhado por um amigo que projetava cinemas, feito sob medida para assistir aos jogos de futebol e de tênis. Deu de novo Espanha em 2012. Alegria contida, pois assistimos a final com nosso vizinho Italiano, pisoteados e massacrados pelos ibéricos.

E então 2014 chegou, com a promessa do meu país receber o mundo no maior evento esportivo do planeta. Estava apreensiva, com medo do Brasil não dar conta de sediar um evento global tão enorme como a Copa. Acompanhei com curiosidade da preparação até todos os jogos. Coloquei lado a lado a bandeira Suíça e Brasileira na nossa janela. Que venha a Copa Brasil!

Por causa do telão, sempre tínhamos convidados para assistir aos jogos conosco. Os jogos aconteciam a noite então geralmente organizávamos um jantar, decoravamos a mesa com as cores do nosso time preferido e curtiamos tudo. Até o fatídico 7 a 1.

Naquela noite, talvez por premunição, excepcionalmente não convidamos ninguém. Eu, Meu Suíço e nossos 11 jogadores da Seleção. Só. Não vou ter que contar o final da noite mas hoje, olhando para trás, me divirto escutando Meu Suíço contar que subi para ir ao toilete com 2 x 0 e voltei com 5 x 0. Que jogo mais bizarro, massacre total. Uma noite a ser esquecida.

Nossos amigos, de todas as possíveis nacionalidades, se manifestaram nos consolando. Meu querido amigo alemão não tinha palavras para se desculpar. Só futebol para ter destas histórias.

Sobrevivemos ao vexame e continuamos nossas vidas.

Embalados pelo trio Neymar, Messi e o “The bitter”, escolhemos o Barcelona como nosso time de coração. Acompanhamos os jogos e nos deliciamos assistindo a maneira como o time cresceu, até recentemente, claro.

E este ano foi a vez de aproveitar a Euro 2016.

Assistimos aos primeiros jogos na Croácia. Croatas também enlouquecem quando seu time joga, uma delícia de ver.

Meu Suíço se surpreendeu com sua Suíça, que se classificou e segurou bem a onda jogando com times tradicionais, como a França. Como disse, poucas expectativas, grandes alegrias.

Nosso vizinho italiano, normalmente pessimista, viu sua seleção crescer mantendo a classificação. Filhas de nossos amigos indianos vieram ver a Itália e vibraram do início ao fim. As meninas hoje se interessam muito mais pelo jogo, e jogadores, que eu na minha época. Amigos espanhóis vieram ver o jogo com suas duas crianças. Eles gritam, brigam e falam o todo o tempo, como nós, brasileiros. Os alemães, que carregam o peso da tradição, ficam também impacientes e realistas, até o placar se consolidar. Convidados ingleses mantiveram a linha, sem gritos, sem demonstrar decepções, mantendo a classe e a linha britanica. Tive também amigos brasileiros torcendo por aqui... uma delícia assistir com alguém que torce como torcemos!

Mas arriscamos mesmo convidando um casal de franceses para assistir conosco a final. França e Portugal. Joguinho travado para a França, que estava com tudo, jogando muito melhor, mas não conseguia marcar. Judiação. A francesa incentivou seu time o tempo inteiro “Allez les bleus”. O francês, quieto, ficou só na dobradinha queijo e Bordeux. Silêncio e desânimo no placar final.

Futebol judia, mas é diversão garantida. Independentemente da cultura.

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