Estas estradas pequenas e curvas que cruzam as montanhas altas e imponentes da Suíça são chamadas de Pass. A melhor tradução para «Pass« em português é serra, imagino eu.

Já cruzei algumas delas e realmente é uma daquelas estradas que a gente não vira para o lado e dorme, pelo contrário. Cada serra oferece uma experiência, um visual e um encanto particular.

Meu Suíço não é um cara que gosta de dirigir, pelo contrário. Prefere mil vezes ir de trem e curtir a janelinha ao invés de encarar o asfalto atrás do volante. Mas precisaríamos do carro em Como, na Itália, onde passamo um final de semana. Fui então busca-lo na sexta feira em seu escritório em Lausanne, já com as malas no carro, para pegar estrada.
Para minha surpresa disse que havia pesquisado rapidamente na internet e que poderíamos ir pelo Nunfenen Pass, ao invés de pegar a estrada mais rápida, que corta os Alpes com túneis imensos. Topei na hora, o dia estava lindo.

A saída de Lausanne é bastante imponente, uma delícia de visual: montanhas, lago Genebra e os vinhedos de Lavaux. Começamos bem.

Passamos pelo Valais, quando saímos da estrada principal. Tive a impressão que neste momento entramos naquelas folhinhas de parede, com aquelas fotografias que parecem montagem. Montanhas, chalés de madeira, vaquinhas, rios verdes, pontes de pedra e muita vegetação. Não mereço tanto. A arquitetura denunciava que estávamos na Suíça Alemã.
Pegamos a estradinha que nos levava ao início da serra. As barreiras da estrada nos pararam, para a passagem do trem vermelhinho. Mais suíço impossível!

Começamos a subir lentamente respeitando as curvas que são vertiginosas. Muitas vezes viramos 360º.
A temperatura caia verticalmente.
O dia claro e céu azul mudou rapidamente.
Encaramos uma névoa bem fina e nuvens carregadas.

“O clima na montanha muda muito rápido”, lembrei da afirmação feita por um amigo montanheiro.
A medida que subimos notamos também a mudança da vegetação. A partir de uma certa altitude não encontramos mais árvores, só plantas rasteiras. Deve ser pela diminuição do oxigênio, especulo eu.
Um pouquinho antes de chegarmos no pico da Serra, o alarme do carro disparou um bipe, avisando que a estrada teria condições adversas. Virou inverno. 4C de temperatura e risco de gelo na estrada.

No pico da serra, a 2500 metros de altura, paramos para babar um pouco naquela paisagem desbundante. Desci do carro como criança, ignorando meu vestido de verão. Nevava. Surreal.
Começamos então a descer a serra, ainda babando na paisagem e acompanhando a temperatura que subia gradualmente.

As árvores começaram a voltar.
A paisagem mudou totalmente.
Do outro lado do Nunfenen Pass encontra-se o Ticino, a Suíça Italiana. Mas ninguém precisa explicar, é só observar as novas cores e a arquitetura marcante de lá. Nada mais de chalés de madeira. Agora admiravamos as casas de pedra e a simplicidade das construções italianas. Adoro a diversidade deste país!


Depois de descer todas as curvas fechadas pela estradinha estreita, comentei despretensiosamente com Meu Suíço que achava que ele não gostava de dirigir. “Não gosto mesmo, exceção às montanhas”. Como não se deslumbrar por lá?