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Passar o dia com Chagall, em Zurique


Meu pai é um apaixonado por artes e obviamente acabou semeando e influenciando nós quatro neste gosto. Quando viajávamos juntos, visitas a museus estavam sempre na agenda. Curtiamos bastante. Não era uma obrigação, pelo contrário.

De todos os clássicos e caros pintores europeus, sei que o coração do Papai bate mais rápido pelo Marc Chagall e claro, o nosso acabou aprendendo a acelerar por ele também.

Chagall teve uma vida louca e longa. Judeu russo, nasceu em 1887 e morreu em 1985. Viveu seus quase 100 anos intensamente. Sua biografia lista alguns casamentos, guerras, vida em país diferentes, muitas viagens. Sua obra é rica e também diversa: fez arte em pinturas, cerâmicas e vitrais. Participou e influenciou movimentos artísticos. Deixou marcas por onde passou.

Eu aprendi a gostar de Chagall.

Morando na Suíça, sempre cacei exposições deste talentoso artista e sortuda, tive oportunidade de ir a algumas maravilhosas.

Acontece que quem visita Zurique tem a chance única de marcar dois encontros gloriosos com Chagall, independentemente de museus ou de exposições. O primeiro em uma igreja e o segundo em um restaurante.

Em 1967, quando Chagall já tinha 80 anos, este mestre aceitou o desafio de desenhar vitrais para a igreja Fraumunster, a Catedral de Nossa Senhora, em Zurique.

Com sua torre azulada, esta igreja imponente, presente em quase todas as fotografias da cidade, já foi católica, ortodoxa e atualmente é protestante.

Lá dentro a gente senta em uma capela e baba.

São cinco vitrais coloridos, dois azuis, um verde, um amarelo e um vermelho todos eles retratando situações bíblicas “à la Chagall”. Os detalhes são a graça da visita. Quanto mais se observa mais se descobre. Algo típico na arte de Chagall.

Eu já não sei quantas vezes entrei lá. Em 2014 estive com meus pais e foi espetacular observar a vibração de olhos curiosos brilhando de alegria por rever tal obra. Ficamos lá um tempão sentados, curtindo, dessecando Chagall.

E de brinde, na visita a igreja, a gente aproveita também para curtir o vitral de Giacometti. Nada mal!

O segundo encontro com Chagall em Zurique é mais informal. Acontece no restaurante Kronenhalle, um clássico da cidade.

O restaurante Kronenhalle foi comprado por Hulda and Gottlieb Zumsteg em 1924 e logo virou ponto de encontro de intelectuais, escritores, artistas e descolados. Chagall, Miró, Coco Chanel, Yves Saint Laurent, Pablo Picasso, Alberto Giacometti, James Joyce, Richard Strauss, Max Frisch e Friedrich Dürrenmatt são alguns de seus clientes. Chique não?

Chagall era frequentador assíduos deste restaurante e especialmente amigo da proprietária.

Dizem que Hulda, apaixonada por artes, aceitou muitos dos quadros que hoje permanecem pendurados nas paredes do restaurante como pagamento por refeições.

Já gerenciado por outra geração, o Kronenhalle permanece como um clássico da gastronomia e da arte de Zurique.

É simplesmente espetacular jantar ao lado destes quadros. Vou sempre que dá e não me arrependo. Cozinha bem executada e companhia impecável: lá, janto com Chagall.

E quem não quiser jantar, vale uma passadinha no restaurante, o Bar Chagall, onde desenhos deste mestre são ainda mais inspiradores se observados entre taças de vinho branco.

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