
Tanta gente me pergunta das minhas abóboras que resolvi contar o que aconteceu este ano.
No final de abril, como sempre faço, plantei minhas sementes em uma caixa de madeira e guardei dentro de casa, para protege-las do frio das noites ainda geladas da primavera. Motivada pelo ano passado, este ano além de abóboras, plantei também abobrinhas.

Final de Maio me animei com o clima ameno e transplantei tudo para o jardim. Preparei como elas gostam. Coloquei composta, tirei as ervas daninhas e plantei feliz o que achava que seriam minhas futuras sopas, doces e risottos.
Fui então para Drubovnik, onde passei uma semana. Quando cheguei constatei que tivemos uma friagem extrema, piorada por chuvas fortíssimas, que infelizmente queimou todas as minhas futuras delícias. Estava tão animada com o final do inverno, finalmente esquentaria, que certamente me antecipei.
Não me abati. Plantei novamente algumas sementes nas caixas e as mantive dentro de casa, protegidas das noites ainda frescas. Quase início de julho passei tudo novamente para o jardim. Talvez tenha plantado tarde, não sei.

Reguei e cuidei delas até viajar, no final de julho, para as olimpíadas. Me organizei e contratei a filha de uma vizinha, alguém que sabia precisar ganhar uns trocados. Expliquei como faço e fui embora.
Quando voltei, depois de um mês, fiquei decepcionada. A grama estava bem queimada dos dias quentes de julho e denunciava negligência na abundância de água. Dancei, pensei. Mas honrei meu acordo com ela. Paguei o combinado. Palavra é palavra. Sob protestos, é claro.
Encontrei minhas abóboras largadas no meio de um matagal. As ervas daninhas tomaram conta da plantação.

Vesti meu macacão e luvas e apliquei o que aprendi em anos de mercado agrícola. Limpei as ervas daninhas. Colhi-as com as mãos. Não que eu seja a favor da agricultura orgânica, muito pelo contrário, mas aquela altura não daria para fazer diferente.
Nos dias seguintes consegui verificar uma recuperação nas abóboras, mais fortes, viçosas. Ainda bem que aprendi o que é a matocompetição.
Mas passados alguns outros dias, notei que algumas das lindas flores amarelas apareceram quebradas. As folhas comidas. Algo estava errado. Observei com cuidado e constatei que as lesmas estavam tomando conta de tudo. Comiam as flores, o fruto ainda pequeno, e até uma abobrinha que estava começando a despontar.

Eu adoro comer escargot mas não me aventurei. Estava com muita raiva dos moluscos.
Fiquei enlouquecida.
Vesti minhas luvas e fiz a maldade mais antiecológica que pude pensar. Peguei um saco plastico e nele enfiei mais de 40 lesmas que tirei de cima das minhas aboboras. Dei um nó e deixei que elas fossem todas sufocadas. Todas as manhãs vestia minhas luvas e fazia este trabalho. Mas elas ressurgiam, verdade que em menor quantidade, mas ainda mesmo assim ferozes e nocivas. Acabaram com muitas flores, quebraram folhas e tomaram conta do meu jardim.

Lembrei do Jean Marc, um ex vendedor da Dow, que foi trabalhar para uma empresa francesa. Na época eu cuidava da linha de inseticidas e ele estava interessado em fazer uma parceria para lançar um produto para matar lesmas. Trabalhei com meu time, pesquisamos e constatamos que as lesmas no Brasil não eram uma preocupação. Não fazem o estrago que aparentemente faziam na Europa. Seu chefe, francês com um sotaque fortíssimo, não entendia como aquela preocupação europeia não trazia prejuízos aos agricultores brasileiros. E eu não conseguia entender a implicancia com as lesmas.
Agora eu entendo o Jean, e entendo seu chefe também. Não teve um único dia que eu vesti minhas luvas e não lembrei dos dois.

E lembrei da Dow também. Passei vários dias brigando e judiando das lesmas catadas colocando-as no saco plástico mas só venci o problema quando coloquei uma isca granulada, de cor azul, no jardim. Dia seguinte, cemitério de lesmas. Eficiência incontestável. Nada como um bom químico aplicado na hora certa e com responsabilidade. Desculpem-me os ambientalistas mas o resultado na produtividade é incomparável.
Finalmente as flores estão inteiras, não mais comidas e cheias de mordidas. Começam a aparecer alguns frutos. Frutos tardios, é verdade, mas quem sabe...
Ainda torço para recuperar pelo menos um pouquinho do tempo perdido.
Tenho somente três abóboras sobreviventes. Ano passado nesta época tinha umas vinte.
Lição aprendida.
Ano que vem nada de matocompetição e muito mesmo controle orgânico de lesmas. Viva os agrônomos. RIP Jean.