
O que me trouxe para Suíça foi uma pós graduação em hotelaria. Comecei a paquerar o programa Hospitality Operations, aquele que mudaria minha vida, em 2003, três anos antes de embarcar nele.
Não precisava de um diploma, pois minha ideia era abrir meu pequeno negócio, mas como investiria uma grana preta, pesquisei as melhores escolas de hotelaria e me identifiquei com Glion, cotada na época entre as três melhores do mundo.
Meu projeto era abrir um bed&breakfast charmoso em algum lugar no Brasil. Queria poucos quartos e uma cozinha gostosa. Tinha tudo desenhado na minha cabeça.
Precisava me organizar economica e psicologicamente para bancar um programa salgado, viver um ano em um dos paises mais caro do mundo e ficar sem receber salário por um longo tempo.
O problema é que eu não tinha a menor ideia de para onde ia meu dinheiro. É o fim do mundo, eu sei, mas confesso que não controlava muito de perto minhas finanças. Odiava assuntos financeiros. E lá estava eu, querendo economizar o que nem sabia quantificar.

Montei um plano simples mas executável. Primeiro medir, depois atacar.
Durante dois meses anotei todas as minhas despesas. Mas todas mesmo, incluindo gorjetas e cafezinhos. Nada passava desapercebido, tudo ia para o caderninho.
Analisando os dados de dois meses montei meu perfil. Separei meus custos em fixos e variáveis e classifiquei em categorias: habitação, alimentação, lazer, superfluos, vestimentos, comunicação...
Depois de conhecer para onde estava indo meu dinheiro, apliquei o golpe. Continuei a anotar tudo para me certificar que diminuiria o que desse dos custos fixos e cortaria significativamente o variável.
Sou bastante focada. Uma vez determinada, ninguém me segura.
Minhas amigas, que desconheciam meu plano de mudança de carreira, achavam que eu estava ficando louca, ou desenvolvido uma espécie de TOC. Absolutamente tudo ia para o caderninho.

Acontece que escrever no caderninho era uma chateação. Dava preguiça procurar o caderninho e uma caneta na minha bolsa bagunçada, escrever e depois ter que digitar tudo em uma planilha de excel, categorizando despesas difíceis de justificar.
Um jantar com amigos estava mais para lazer que para alimentação. Um café no meio da tarde virava superfluo e não alimentação. Cheia do policiamento que eu mesma me submeti, simplifiquei minha vida. “Melhor nem gastar, para não ter que classificar”.
Acontece que, para fugir deste processo chato que me impus, parei de gastar com besteiras cotidianas e milagrosamente comecei a economizar.
Foi mais fácil que pensei.
Minha criatividade também transbordou. Meus presentes eram mais criativos e menos caros, muitas vezes feitos ou montados por mim. Os programas também ficaram mais diferentes, fugindo da banalidade comercial. Acho que até desenvolvi novos talentos.

Depois, enfiei na cabeça o óbvio: quanto menos gastasse, mais tempo poderia ficar sem receber.
Mais interessante ainda foi perceber que muitas coisas que eu abri mão não fizeram falta lá na frente. Gostei de viver bem mais leve, sem coisas que simplesmente eu resolvi deixar de ter.
O questionamento antes de qualquer despesa virou um hábito na minha vida. E para os desavisados: não virei pão dura, só adquiri uma relação de mais respeito comigo e com o meu dinheiro.
Depois desta fase veio a fase do desapego, um capítulo a parte.
É claro que sair do consumismo imposto em São Paulo também ajudou muito. Aqui na Suíça o consumo é bem diferente. Hoje tenho menos dinheiro e mais tempo. Prefiro assim!