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Poda das árvores: preparação para o inverno suíço.


Por lei, todas as casas construídas na Suíça devem ter em seu terreno uma árvore. Acho uma boa lei, para manter o país verde.

Moro em uma vila costruída há 12 anos, com 5 casas geminadas porém independentes. Na época da construção definiram colocar três árvores de um lado da villa e duas do outro, uma para cada casa, como a lei prevê. As árvores não demandam grandes cuidados, a não ser uma poda no inverno, rachada entre os vizinhos.

No outono as folhas amarelam, secam e caem, precisando ser recolhidas, não tanto pela bagunç a, mas pelo risco, uma vez que os moradores são responsáveis caso alguém escorreguem nelas.

Eu adoro ver as folhas com todos os tons de outono esparramadas pela rua. As nossas árvores são plátanos, que têm folhas enormes, com formas e cores lindas. São especialmente charmosas. Nada mais europeu!

Cheguei em Saint Prex no meio de Outubro e para ser sincera, no meu primeiro ano não me lembro bem quando as árvores foram cortadas.

No segundo ano um dia acordei e as árvores estavam peladas. Organizado pela vizinha, o jardineiro tinha vindo logo cedo e cortado tudo. Não era nem Novembro ainda. Achei cedo, mas já era.

Ano passado a vizinha veio me consultar sobre cortar as árvores. Eu disse que achava cedo e que preferia esperar pois ainda estávamos na primeira quinzena de outubro. Ela não gostou da minha solicitação, disse que já havia chamado o jardineiro. Eu insisti que esperassemos. As árvores ainda tinham folhas verdes.

Acontece que acordei um sábado de manhã e percebi um movimento atípico na rua. Abri a janela do meu banheiro e fui surpreendida com dois jardineiros em cima de uma árvore, podando uma infeliz. Ainda de pijamas, e gritando pela janela, pedi que parassem de cortar pois eu não havia autorizado a poda. Eles, portugueses com quem eu me entendo muito bem, acharam que eu estava brincando. Insisti que descessem e reafirmei não autorizava a poda. Argumentaram que já estavam no meio. Pedi que deixassem como estava. E assim ficou. Uma árvore cortada só pela metade.

Furiosa, fui falar com a vizinha. Ela tentou se esquivar da responsabilidade argumentando que os jardineiros foram muito rápidos e quando ela viu já haviam começado. Fiquei enfurecida. Se eu parei, ela também o deveria ter feito. E fui além, disse que se não gostasse do outono, que fosse para o Brasil, onde as folhas não caiam. E as árvores ainda estavam verdes, não estavam nem secas.

Achei anti-ecológico mas, quem me conhece sabe que eu estava muito mais indignada com o estético e não com o ecológico da questão. Me recusava a viver o inverno, sem folhas e sem cores, em pleno outubro, um mês encantadoramente colorido aqui!

A árvore ficou lá, pelada pela metade, durante mais um mês, denunciando a falta de acordo naquela decisão.

Eu, no início, cada vez que olhava a árvore, perdia meu bom humor. Depois comecei a achar graça e rir do barraco.

Ainda bem que tivemos maturidade, eu e a vizinha, e contornamos bem a situação.

Quando fui para o Brasil no Natal, Meu Suíço providenciou a poda da metade que faltava e o assunto foi esquecido.

Digo, parcialmente esquecido.

Este ano vamos nos reunir e decidir democraticamente o que e quando cortar. Adoro uma democracia!

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