
Quando vinha de férias para a Europa achava espetacular as flores daqui. Lembro especialmente dos gerânios nas janelas, espetaculares. Achava que gerânios eram a Europa encarnada.
Comprei então meu apartamento em São Paulo. Ele tinha três pequenas varandas e nas janelas, floreiras. Pronto, pensei, vou plantar gerânios vermelhos.Ficarão lindos.
Nunca plantei nada. Recebi o apartamento com espinhos plantados nas floreiras e assim ele ficou. Sorte que o espinho dava uma mini florzinha vermelha. Foi o que tive. Os espinhos permanecem la, depois de quase vinte anos.
Aqui na Europa, finalmente plantei gerânios, aqueles que sonhei ter um dia nas minhas janelas. Antes tarde que nunca!
Fico pensando porque no Brasil não plantamos flores em todos os cantos, já que temos clima bom praticamente o ano todo. A explicação que dou vem da expressão da língua inglesa “Take it for granted”, que pode ser traduzida como “dar como certo”. A gente se acostuma e acaba não valorizando, ou não fazendo nenhum esforço adicional, já que vai acontecer mesmo.

Na Suíça vivemos pelo menos seis meses sem poder ter algumas flores, por causa do inverno. Não pode e pronto. O que acontece porém é que, quando a primavera chega, todo mundo se manda para lojas de jardinagem. Nos finais de semana e finais de tarde quentes da primavera, ninguém pensa em fazer nada além de cuidar do jardim e plantar todas as cores e formas que faltaram no inverno.
Quem sabe o que é não ter, valoriza ter.
A falta durante os seis meses incentiva o investimento de tempo e de recursos nos jardins.

E os jardins e vasos dão trabalho.E são caros manter. Tem que cuidar, colocar fertilizante, tirar as folhas e pétalas secas, podar, limpar as ervas daninhas, regar. Trabalho sem fim, geralmente executado pelo morador, não por um jardineiro.
No verão passado viajei para o Brasil e fiquei um tempão ausente daqui. Tive que providenciar alguém para regar meu jardim. É responsabilidade e cuidado diário. Não tem desculpa. Quer ter, cuide!
Tem também a questão do respeito. Ninguém ousa arrancar uma única flor das ruas e muito menos de casas particulares. Tirar? Só foto!
E depois, no final do outono, o trabalho não acaba. Precisa tosar as plantas, arrancar o que está seco, cobrir o que sobreviverá o frio e preparar a terra para hibernar no inverno.
Como diz uma miga minha, o trabalho aqui não acaba e nem fica pouco. Mas as flores, lindas e coloridas, elas valem a pena!