
Lembro bem quando, há mil anos atras, fui com meus pais e minhas irmãs no Ibirapuera assistir ao Holiday on Ice. Foi um dos eventos marcantes da minha infância.
Montavam um imenso rinque de patinação no ginásio e patinadores, vestindo fantasias da Disney ou sei lá do que, faziam um show com temas diferentes cada ano.
Aquele show dividia. Muitos achavam meio brega, e acho que era mesmo, enquanto outros sonhavam assisti-lo. Lembro que baixavam ônibus vindos de todos os lugares para assistir o espetáculo.
E era caro, além de demandar uma organização descomunal. Tínhamos que comprar os ingressos com antecedência. Naquele tempo, sem internet, era fila mesmo.
Lá, claro, tinha que comprar pipoca e refrigerantes, e depois, óbvio, uma lembrancinha do espetáculo. Uma facada vezes quatro, para meus pais. Mesmo assim, fomos. Lembro direitinho daquela tarde de domingo. Foi mágica.
Na Europa ainda existem alguns espetáculos deste tipo, Disney on Ice, Fantasy on Ice and Holiday on Ice mas, para os Suíços, o que seduz mesmo é o Art On Ice.
Art on Ice é um espetáculo anual, que acontece geralmente em fevereiro, exceção nos anos de olímpiadas de inverno. Traz patinadores de altíssimo nível, campeões olímpicos, medalha de ouro, atletas altamente conceituados.
Patinação é um esporte popular na Suíça, que tem Stephane Lambiel, uma espécie de Pelé da patinação no gelo artística. Stephane foi duas vezes campeão mundial, ganhou medalha nas Olimpíadas de Turim, foi campeão duas vezes no Grand Prix e nove vezes campeão suíço. Poderia ser um arrogante mas não é, é um fofo. Simples, cativante, acessível. É atleta modelo e participa ativamente dos eventos olímpicos e esportivos daqui. É idolatrado mas continua com os pés no chão.

Esportista de visão, ele faz excelente uso da sua imagem e é um excelente empreendedor. Tem uma escola de patinação, faz anúncios para a televisão e ainda patina em eventos como este.
O show, além de trazer patinadores top traz também dois cantores de sucesso, um mais moderno e outro mais antigão, para agradar diversas gerações.
Me explicaram que nas competições oficiais os patinadores têm que apresentar em seus programas um número fixo de saltos e piruetas com requisitos técnicos bem específicos. Para conseguir pontuação, muitas vezes arriscam-se em piruetas super difíceis. No Art on Ice não. Eles patinam pela beleza do espetáculo e da arte. É uma dança harmônica, sem competição e sem o estresse de um receber um troféu.
Eu fui novamente este ano. Em fevereiro. Fazia frio animal, potencializado por um vento cortante. Todo mundo vestido com roupas pesadas de inverno, assistindo a um esporte de inverno. Coerente, combina. No intervalo, saímos de nossas cadeiras para tomar um vinho quente. Assistindo parece tão fácil patinar. A dança do rinque nos transporta. É realmente uma delícia assistir.
Estephane, novamente, foi a estrela do espetáculo Art on Ice 2017. Quando entrava no rinque o povo ia ao delírio. E ele arrebenta. Aposentou-se em 2010 mas ainda patina muito bem, é bonito e envolvente.

Este ano cantaram James Morrison, o cantor inglês de 31 anos e Chaka Khan, a clássica cantora americana, conhecida como uma das rainhas do soul. Eles cantavam e o pessoal patinava.
Além de patinadores e cantores de peso, alguns dançarinos acrobatas ganharam a plate
ia fazendo um show a parte. Visualmente é um espetáculo bonito.
Pode até ser meio brega, mas é gostoso de assistir.
O evento é tão tradicional por aqui que os ingressos para 2018 já estão a venda.
Vale a pena. Recomendo.